27 abril 2013

Capítulo 11


ESCRITO POR: MAYRA BORGES



-Surpresa?
-Sim.
-Quer saber o que é?
-Estou curiosa e receosa ao mesmo tempo, eu não gosto de surpresas.
-Por que não gosta?
-Eu gosto de ser surpreendida, mas surpresas anunciadas me assustam.
-Está tudo bem, Miriam?

Não, nada está bem, mas você não precisa conhecer a parte estranha e avessa da minha vida, eu sou o que você imagina e não vou lhe decepcionar com relatos exaustivos acerca de olhos tristes e solidão. Pensei, mas não disse.
            -Estou sim, só um pouco cansada, semana difícil.
            -Quer conversar sobre isso, querida?
            -Não, ta tudo bem.
            -Você sabe que pode contar comigo, não é?
-Não, Vincent, eu não posso contar com você. Quando completei seis anos minha mãe disse que amigos imaginários não existem. Se eu posso ouvir a tua voz, mas não posso te ver provavelmente você é uma farsa ou fruto da minha imaginação, ou as duas coisas._foi mais forte que eu, quando dei por mim já havia digitado e apertado enter.
-Você está chateada, não está?
-A essa altura do campeonato? Não, eu não tenho o direito de me chatear com você.
-Será mesmo? O que aconteceu?
-Nada e é exatamente o nada que me chateia, entende?
-Olha, desculpa ter sumido esses dias...
-Ei, para. Ta pedindo desculpa pra mim? Você não me deve explicações Vincent, não faz sentido você vir se desculpar comigo ou me dar motivos, esse foi um trato que a gente fez, mesmo que de uma forma implícita, o que temos fica aqui e dificilmente sairá disso.
-Você está exagerando, Miriam.
-Desculpa.
-Não me peça desculpa você também. 
-Vincent?
-Oi.
-O que você tem pra mim hoje?
Ele sorriu, tenho certeza que sorriu, podia imaginar seus lábios curvando-se leve e involuntariamente em um sorriso quase ingênuo. E se eu tinha provocado-lhe o riso, como não sorrir de volta? A alegria mansa intrometeu-se em mim e bastava em si mesma.
            -Posso te ver hoje?
            -O que eu ganho em troca?
            -Desde quando você virou uma garota interesseira?
            -Desde agora.
            -Você ganha a surpresa.
            -Mas e se eu não gostar da surpresa?
A essa altura a minha curiosidade estava falando mais alto, o que será que ele tinha pra mim?
            -Eu duvido muito que você não vá gostar. Mas se não gostar poderá me pedir qualquer coisa.
            -Isso é um trato?
            -É.
            -E como vou saber que você não está cruzando os dedos?
            -Dessa forma...

CONTINUA...

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21 abril 2013

Capítulo 10

ESCRITO POR: MAYRA BORGES


Caso não se lembre a última despedida entre eu e Vincent foi selada com a promessa de que em breve eu poderia vê-lo, duas semanas se passaram sem que nos falássemos desde então. Foi assim que de repente me peguei a alimentar uma espécie de raiva contra a esperança. Eu chegava em casa do trabalho e ficava na internet esperando que ele entrasse, mas nada; e era esse esperar o nada que me nauseava. Uma tortura longa, quanto tempo mais eu teria que esperar? Essa falta de resposta me irritava. Então comecei a me repreender por pensar assim, estava apenas perdendo o meu tempo sendo tola, tudo tem sua hora e quando chega a hora é mais legal, foi assim que o Humberto Gessinger me convenceu a não pensar.
Sábado à noite, estava sozinha no apartamento.  Hora ou outra todas essas linhas não passarão de um dossiê, se é que já não o seja, a solidão documentada. Já me preocupei mais com isso, hoje eu aprecio a minha companhia e até comparo a minha solidão com uma roupa íntima, não é a mais bonita, a mais sexy, mas é quase confortável e indiscutivelmente me caí muito bem. A moça dos olhos tristes, muito prazer, essa sou eu. Talvez soe dramático, mas acontece que em certos momentos as palavras não são capazes de traduzir em exato o real das coisas e das pessoas, este é um desses casos. Não existem palavras que possam me explicar.
Sábado à noite, minhas pálpebras estavam ficando pesadas e minha cabeça procurava formas de evitar um meio conflito que havia se iniciado entre eu e meu namorado, Carlos. As coisas entre a gente não iam nada bem, à distância e a falta acabam com tanta coisa e isso doi demais, mas a gente tenta equilibrar as coisas até onde da, não é? “Até quando valer a pena.” Era isso que tilintava na minha cabeça. De um lado a briga anunciada entre eu e Carlos e do outro o silêncio de Vincent,
Sábado à noite, e insisto em tentar fugir, talvez na forjada intenção de deixar essa parte em segundo plano, em disfarçar de secundário o que é fundamental. E eu continuo me delatando, é inevitável. Eu estava em frente ao computador quando alguém me enviou uma mensagem, e eu fingi que não me importava em responder, mas ai sorri da minha tolice, se eu estava com fome porque recusar a comida?
-Oi Miriam boa noite.
-Olá, Vincent. 
-Tudo bem?
-Tudo e você?
-Tudo tranquilo.
E então aquele sorriso na fotografia, era um convite ao pecado. Eu tentei evitar, mas quando dei por mim já estava rindo, e era uma mistura de tantas coisas dentro de mim. É impossível conter uma enxurrada e naquele momento eu era toda enxurrada, de desejos, de paradoxos e de tudo que há pra ser...
                -Que bom.
                -Tenho uma surpresa pra você.

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14 abril 2013

Capítulo 09


ESCRITO POR: MAYRA BORGES

Ao longo dessa história sinto que terei que criar reapresentações de mim, porque tenho mudado, basta o fim de um parágrafo e pronto! Já não sou mais a mesma. Por outro lado talvez, isso não seja necessário, quem lê minhas entrelinhas consegue ver essa transição sutil entre meus opostos e isso basta.
A página em branco tem me angustiado, não sei sobre o que eu devo escrever, pensei que escreveria sobre mim, mas isso tem ido além de mim e das coisas que faço, pensei que escreveria sobre meus amigos, sobre os lugares que gosto de ir e de como tenho me sentido, falar sobre a solidão que me acompanha calma e serena pensei que escreveria todas as histórias que acontecem em paralelo a minha, mas não, a história tem se resumido a um ponto específico. A narrativa tem deixado de lado todas as muitas histórias paralelas a esta, para se concentrar em um único lugar. Poderia contar o motivo pelo qual escrevo, é óbvio e tolo, escrevo para não esquecer, escrevo para organizar o que sinto, escrevo para perceber todas as mudanças, escrevo para tornar-me real. Leio-me nas entrelinhas também, tudo o que tenho perdido de mim, posso encontrar aqui.
Mas enquanto escrevia os parágrafos anteriores fui acometida pela urgência de certos olhos castanhos e indecisos na cor. Então chego ao ponto onde a minha história deixa de ser só minha para acolher outra. Vincent, receio nunca tê-lo apresentado a vocês de uma forma mais consistente e agora apresentá-lo torna-se minha urgência. Minha intenção também é torná-lo real, não que já não o seja, torná-lo real e eterno, pra mim. Perdoem a confusão das palavras.
O que o mistério pode definir e encerrar? Infinitas possibilidades que cabem na palavra: tudo. Na superfície, uma pele branca, cabelos lisos, escuros e quase na altura dos ombros, olhos em indeciso tom castanho, sobrancelhas grossas, lábios bem marcados pelas covinhas que o sorriso provoca. Ele tem em si qualquer coisa de buraco negro, suga-me para si sem qualquer ou mínima recompensa. E eu entrego-me pelo prazer de me dar. Quanto à profundidade dos olhos, parecem carregar em si mundos inteiros, olhos impenetráveis. Talvez seja pela distância, mas a impressão que tenho é a de que poderia fitá-lo por horas a fio e não descobrir nada. Talvez seja só a distância, talvez ele seja blindado, talvez eu seja míope ou talvez eu esteja me enganando. Gosto do sorriso é despudorado, mas também é infantil, simples, bonito, contagiante, malicioso, milhões de sorrisos em um só. É no sorriso que ele se revela, ou assim eu penso que seja.
Talvez eu devesse falar mais, mas é preciso que o conheçam pelas entrelinhas de suas próprias palavras. Sei que ainda é pouco, que é vago, mas pensando bem, o vago é tudo que eu tenho.

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06 abril 2013

Capítulo 08


ESCRITO POR: MAYRA BORGES


Não foi fácil dormir aquela noite, pois eu queria mais, mais dele e principalmente mais de mim. Fiquei inquieta e a excitação perdurou por um tempo, curiosidade, desejo, medo, mas eu sabia que seria necessário caminhar devagar, seria como desfrutar de um bom vinho. Um bom Sommelier sabe apreciar e decodificar a maior quantidade possível de sensações que um bom vinho pode proporcionar. A bebida dos cinco sentidos. Vincent e eu dispúnhamos de apenas dois dos sentidos o que, contudo não era bastante para impedir a semelhança entre nossa relação e um bom vinho tinto, aroma penetrante, gosto aveludado. Eu seria o vinho, deixaria que ele me conhecesse e desfrutasse lentamente, despertaria nele sensações, por isso queria que fosse naturalmente devagar. Meu corpo arrepiou-se ao pensar na taça cristalina sendo gentilmente inclinada, primeiro para notar-se a consistência e a cor, depois para aguçar o olfato e por último, a taça fina e delicada indo de encontro aos lábios de Vincent, passando pela língua e garganta, aquecendo suavemente, uma pequena gota deslizando desleixada pelo queixo e minha língua atrevida sorvendo-a.
                E então minhas mãos inquietaram-se, eu me revirei na cama, fazia calor e meu corpo estava transpirando, de repente a respiração agitou-se junto aos batimentos cardíacos. Retirei a blusa e a roupa íntima que usava, mas a tentativa de amenizar o calor só servira para atenuar o desejo por prazer. Era inevitável, a todo o momento a imagem dele perpassava minha mente, não consegui resistir e não havia motivos para. Minhas mãos acariciaram meu rosto, meus cabelos, demorando-se nos seios, macios e alvos, a mão direita escorregou lentamente pela barriga até encontrar o ponto certo, e demorou-se em carícias alternadas, lentas, rápidas, suaves e intensas demais. O rosto dele vinha até minha mente, o vinho quente... Imaginei que eram as mãos dele a percorrer meu corpo inquieto, desejei aqueles lábios de sorriso faceiro e ordinário.  A mão esquerda agitava-se junto ao corpo, segurava forte o cabelo, arranhava suavemente os ombros desnudos. Sussurrei na ilusão de que ele pudesse me ouvir: Vincent. Aquele homem, que homem!
                O quarto estava escuro, meus olhos estavam fechados e minha mente já não pensava em mais nada além do momento. Minha boca entreabriu-se a espera de um beijo que por certo era proibido e que de certo sequer aconteceria, usei os dedos nos lábios devagar provocando pequenos arrepios. A respiração sôfrega, como se me afogasse gradualmente num mar de sensações intensas, ondas invadiam-me, ondas que começaram pequenas, mas que aos poucos se tornaram maiores e mais constantes e então estremeci, os quadris que antes se movimentavam timidamente agora se contorciam. Vincent! Era um grito reprimido a míseros sussurros, como queria que ele me ouvisse e que viesse até mim. E então senti que a última onda havia de chegar e derrubar tudo o que estivesse de pé, a onda que me arrebataria e far-me-ia repousar na praia. Meu corpo inteiro vibrava ao ser invadido pelo prazer que tanto desejara ali entre lençóis e vazio, minha mão apertou com força o lençol e abafei um gemido no travesseiro. Senti o sangue ferver, senti o rubor em minha face, e então meu corpo estava satisfeito, exausto, entregue. Fechei os olhos e um sorriso displicente nasceu em meus lábios rosados. Um último pensamento pronunciou-se em minha mente  -Sim, eu serei o vinho e o que mais tiver que ser. Senti o sorriso desfazer-se e os pensamentos adormeceram. 

CONTINUA...

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01 abril 2013

Capítulo 07


ESCRITO POR: MAYRA BORGES



[...] -Quero que me veja, não consigo mais negar isso a você.

                -Sério?
                -Sim!
Luguei minha câmera e comecei a sentir as minhas mãos um tanto geladas, era loucura demais? Que fosse, não pensaria sobre isso naquele momento.
                -Nossa, me enganei.
                -Com o quê?
                -Você não tem cara de meiga não.
Sorri, mas estava um pouco nervosa, mesmo que não fosse nada demais, ainda assim sentia minhas mãos geladas. De repente me dei conta do estado do meu cabelo e fiquei ainda mais embaraçada.
                -Ignore, é a primeira vez que uso a cam.
                -Não minta, é feio.
                -Não estou mentindo._ e não estava.
                -Para, nem com seu namorado?
                -Nunca.
                -Por quê?
                -Porque ele não é tão insistente quanto você.
                -Isso eu realmente sou, mas com bom senso claro.
                -Eu gosto de pessoas insistentes._sorri levemente.
                -Eu só não gosto de parecer chato, sem noção, já te falei isso.
                -Você não é nenhuma destas coisas.
E não era, ele era a medida certa em tudo, nas conversas, nas brincadeiras, na insistência, provocações. Ele sabia como  mexer comigo, e como mexia, isso eu não nego.
                -O que eu posso afirmar é que você surte efeito em mim.
                -Quais?
                -Você me deixa inquieta, estupidamente nervosa. Me deixa com vontade de te conhecer sempre mais, devagar.
                -Sempre que nos falamos?
                -Sim sempre, desde sempre.
                -Seus lábios parecem apetitosos.
Suspirei, estava com um batom cor de rosa, um tom forte que contrastava perfeitamente com minha pele clara. Mordi os lábios devagar numa tentativa de provocá-lo.
                -Cor de rosa...
               -Vem aqui pra gente se divertir, essa boca vai voltar vermelha e não rosa, fora outras partes do teu corpo.
Senti um arrepio e de repente tudo que eu mais queria era me teletransportar, queria estar com Vincent mais que qualquer outra coisa. 
                -Desde que essas marcas fiquem escondidas, por mim não há problema.
                -Não serão “danos” permanentes, fisicamente não.
               -Sei que não serão, mas farão com que me lembre de você toda vez que vê-las estampadas sobre minha pele ou até mesmo imaginar que estiveram ali, segredos tatuados temporariamente.
Senti mais uma vez meu corpo aquecendo-se e eu estava pronta para ferver, mordi os lábios mais uma vez.
                -Gosto quando faz isso.
                -Isso o quê?
                -Morder os lábios.
                -Faço isso quando alguém me deixa nervosa, no bom sentido, claro.
Eu também queria vê-lo, queria ver aquele sorriso surgindo, queria saber como reagia a mim, eu precisava.
                -Eu também quero te ver.
                -Você verá.
                -Quando?
                -Em breve, logo você poderá ver tudo o que quiser.
                -Espero que sim.
                -Estou falando a verdade.
                -Tudo bem.
Olhei a hora, estava tarde, precisava descansar.
                -Tenho que ir agora, estou cansada.
                -Eu também vou, já está tarde.               
Nos despedimos mais uma vez, eu lutaria contra o sono, mas sabia que não era assim que as coisas funcionavam, iria devagar, parecia mais gostoso assim.

CONTINUA...

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