ESCRITO POR: MAYRA BORGES
-Surpresa?
-Sim.
-Quer saber o que é?
-Estou curiosa e receosa ao mesmo tempo, eu não gosto
de surpresas.
-Por que não gosta?
-Eu gosto de ser surpreendida, mas surpresas anunciadas
me assustam.
-Está tudo bem, Miriam?
Não, nada está bem, mas você não precisa conhecer a
parte estranha e avessa da minha vida, eu sou o que você imagina e não vou lhe
decepcionar com relatos exaustivos acerca de olhos tristes e solidão. Pensei,
mas não disse.
-Estou sim, só um pouco cansada,
semana difícil.
-Quer conversar sobre isso,
querida?
-Não, ta tudo bem.
-Você sabe que pode contar
comigo, não é?
-Não, Vincent, eu não posso contar com você. Quando completei
seis anos minha mãe disse que amigos imaginários não existem. Se eu posso ouvir
a tua voz, mas não posso te ver provavelmente você é uma farsa ou fruto da
minha imaginação, ou as duas coisas._foi mais forte que eu, quando dei por mim
já havia digitado e apertado enter.
-Você está chateada, não está?
-A essa altura do campeonato? Não, eu não tenho o
direito de me chatear com você.
-Será mesmo? O que aconteceu?
-Nada e é exatamente o nada que me chateia, entende?
-Olha, desculpa ter sumido esses dias...
-Ei, para. Ta pedindo desculpa pra mim? Você não me
deve explicações Vincent, não faz sentido você vir se desculpar comigo ou me
dar motivos, esse foi um trato que a gente fez, mesmo que de uma forma
implícita, o que temos fica aqui e dificilmente sairá disso.
-Você está exagerando, Miriam.
-Desculpa.
-Não me peça desculpa você também.
-Vincent?
-Oi.
-O que você tem pra mim hoje?
Ele
sorriu, tenho certeza que sorriu, podia imaginar seus lábios curvando-se leve e
involuntariamente em um sorriso quase ingênuo. E se eu tinha provocado-lhe o
riso, como não sorrir de volta? A alegria mansa intrometeu-se em mim e bastava
em si mesma.
-Posso te ver hoje?
-O que eu ganho em troca?
-Desde quando você virou uma
garota interesseira?
-Desde agora.
-Você ganha a surpresa.
-Mas e se eu não gostar da
surpresa?
A
essa altura a minha curiosidade estava falando mais alto, o que será que ele
tinha pra mim?
-Eu duvido muito que você não vá
gostar. Mas se não gostar poderá me pedir qualquer coisa.
-Isso é um trato?
-É.
-E como vou saber que você não
está cruzando os dedos?
-Dessa forma...
CONTINUA...
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