26 março 2013

Capítulo 06


ESCRITO POR: MAYRA BORGES


A noite logo passou de morna para extremamente quente. Estávamos nos revelando um ao outro, e eu me entreguei a não razão daquele momento, não quis pensar em nada e não conseguiria se tentasse tudo que eu queria era sentir e estava sentindo. Meu corpo estava inquieto, minha respiração curta demais, minhas mãos impacientes deslizavam sobre a minha pele. E continuei sentindo mais a cada provocação. Sentia-me febril, delirante, sedenta, faminta...
-Eu tenho fome de você.
-Provoque-me!
Eu queria provocar, eu queria ser provocada. Meu corpo implorava por mais, a excitação consumia qualquer resquício de sanidade existente em mim. Sem moral, sem receio, tudo ia muito além disso.
                -Você me acelera, mas não sei se é justo atribuir tudo isso a você._falei.
                -Explique.
                -Tenho feito todas as coisas que jurei nunca fazer, mas basta pensar que é você que está do outro lado e pronto, nada mais importa.
                -Tem gostado de tudo isso?
                -Bastante.
                -Do que mais gosta?
                -O que eu mais gosto é da forma como tenho me sentido, permitindo-me por em prática desejos e pensamentos. Gosto de pensar e agir como a mulher que eu sempre senti vontade de interpretar. Interpretar não, ser.
                -Algum arrependimento, medo?
                -Nenhum arrependimento. Eu não diria medo, é algo mais como um sinal de alerta, entre pular ou não de um precipício.
                -Que tipo de alerta?
                -De você ser um maníaco psicopata._neste momento não pude conter o riso._ Apenas uma brincadeira.
                -Se eu fosse talvez já teria dado alguma pista disso.
                -É, talvez. Mas e você, o que mais tem gostado nessa história toda?
               -Da amizade, cumplicidade, curiosidade. Gosto de sentir que você também gosta disso e que gosta de me provocar.
                -Faço de propósito, mas ainda assim não é algo automático.
                -Eu sei que não. 
                -Quero que me veja, não consigo mais negar isso a você...

CONTINUA...
               
                


22 março 2013

Capítulo 05


ESCRITO POR: MAYRA BORGES


Foi bom despencar precipício abaixo, mergulhar em águas desconhecidas, todo mundo precisa se desprender às vezes, a vida pede por loucuras, por mudanças. Precisamos passar por alguns caminhos para nos reconhecermos em outras histórias... E ele continuou a alucinar-me com aquelas palavras tolas, fazendo-me arder sem ao menos encostar em minha pele clara. Era evidente a sua capacidade de deixar-me sedenta.
-Eu tenho vontade de te sentir inteira.
E cada vez que ele dizia isso imaginava como seria se realmente acontecesse, a necessidade latente de senti-lo em mim, dentro de mim, saindo da linha, perdendo o controle e me levando junto nesta história secreta e inesperada.
                -Eu também tenho.
                -Completamente?
                -Sim, do começo ao fim, seu corpo inteiro, sem qualquer pudor.
Meu coração acelerado dentro do peito e a respiração fugindo do controle, um tremor interno daqueles tremores que balançam e que também queimam.
                -Preciso segurar teus cabelos, sentir seu corpo e seu ritmo.
            -Você me deixa quente, me faz arder. Coloque suas mãos sobre mim e descubra os meus caminhos, enlouqueça-me eu preciso de tudo isso.
                -Deixe-me vê-la, por favor!
Era cedo demais, era a minha imagem, e neste ponto a ideia de estar sendo enganada ou correndo algum risco me proporcionou uma breve paralisia e mais uma vez precisei de um tempo, por mais que estivesse me liberando e até mesmo sendo impulsiva eu precisava pensar.
            -Vincent, algum dia.  Preciso de intimidade e confiança, entende?
-Claro que sim, não quero parecer insistente e sem noção. Não pense que a única coisa que quero de você é vê-la sem roupa.
-Eu sei que não é só isso, acima de tudo somos amigos.
-Claro que somos. O que você deseja, até onde quer ir com tudo isso?
-Prazer, de qualquer forma, longe ou perto. E quanto até onde quero ir não estipulei nenhum limite, mas garanto ser sincera sempre e se for preciso saberei onde devo parar.
-Posso lhe assegurar o mesmo. Só mais uma coisa.
-O quê?
-Sem provas.
-Bem melhor assim.
Essa parte de destruir evidências lhe soa um tanto cafajeste? Foi um pensamento que sumiu na velocidade com a qual apareceu, sim às vezes temos que ser um pouco hipócritas a favor de um bem maior. E que seja cafajestagem, não me importa uma vez que a recíproca é verdadeira e que não nego o fato de que o diabo atrai. Esse pensamento um pouco torto me faz rir despreocupadamente e a despreocupação tem um sabor ainda maior nesta história. 

CONTINUA.

18 março 2013

Capítulo 04


ESCRITO POR: MAYRA BORGES


Ao longo da conversa o assunto foi tomando um rumo que me deixou surpresa, principalmente porque eu não imaginava que conseguiria ser tão franca com ele e de certa forma, nem comigo mesma. Insinuações, entrelinhas e provocações, testando limites deliciosamente arriscados. E então aquela pergunta:
-Você me quer?
-Sim, eu quero.
-De que forma?
-Você é sempre a última coisa em que tenho pensado antes de dormir, e se quer mesmo saber faz tempo que não sinto isso por um homem, talvez nunca tenha desejado tanto alguém como eu te desejo. Eu quero você na minha cama, por uma noite, por um momento ou por quantos vierem.
As palavras simplesmente saíram sem que eu pudesse exercer qualquer controle sobre elas, eu precisava dizer e ser absolutamente franca, foi o que eu fiz.
             -Ual garota, você me tira do sério.
             -Você também.
             -Mas me diga do que tem vontade? Dê-me o prazer de saber, imaginar.
Sei que alguns começam a me enxergar como uma pessoa carente ou uma vadia louca, que seja, mas quem pensa assim está há alguns milhões de quilômetros de enxergar o que eu realmente sou por trás de qualquer disfarce.
         -Eu quero enterrar minhas mãos nestes teus cabelos, me sentir entre teus braços, ouvir tua voz sussurrando ao pé do ouvido, quero beijar teus lábios, sentir pele na pele, olho no olho, corpo a corpo, inteiramente.
As palavras transbordavam por entre meus dedos, o desejo me impulsionava a tudo aquilo e eu não queria parar mesmo sentindo meu sinal de alerta soar compulsivamente. É mais ou menos como correr livremente e sempre em frente até deparar-se a poucos metros de um abismo e então você sabe que precisa escolher entre dar meia volta ou se jogar, eu estava me jogando, assumindo riscos, ignorando qualquer que fosse o medo e seguindo em frente.

CONTINUA...
VISITE: Era outra vez amor

17 março 2013

Capítulo 03


ESCRITO POR: MAYRA BORGES


A noite estava quente e úmida, resolvi tomar um banho. Tirei a roupa devagar, me olhei no espelho, cabelos ondulados até a cintura, semblante cansado, o dia não havia sido dos melhores e ao passar as mãos pude senti a tensão em meus ombros, coloquei os braços para cima tentando relaxar um pouco, girei a cabeça lentamente, mas faltava algo... Liguei o chuveiro e de olhos fechados deixei que a água escorresse pelo meu corpo relaxando-me um pouco mais. Devo ter ficado assim por mais tempo que o esperado, a água deslizando pelo meu corpo me provocava sensações esquecidas, apenas deixei que continuasse, mas alguém bateu à porta, abri os olhos assustada, uma das meninas que dividem o apartamento comigo. Terminei meu banho e saí de toalha até o meu quarto. Joguei-me na cama e permaneci ali de olhos fechados e pensamento distante, quase triste.
                O telefone tocou, demorei um pouco pra perceber que era o meu. Levantei e atendi.
-Oi amor, boa noite.
-Boa.
-Que milagre você me ligar._tentei sorrir.
-É que eu liguei pra avisar que amanhã não posso ir te ver. Tenho umas coisas importantes pra fazer amanhã. Desculpa.
-Hum, tudo bem.
-Não fica chateada não?
-Não, tudo bem, Carlos._aquela altura do campeonato não adiantava eu me importar, só iria estragar o resto da minha noite. 
-Então ta linda, boa noite. Amanhã a gente se fala mais, eu estou morrendo de sono, tenho que ir dormir.
-Então, boa noite, dorme bem. Saudades...
-Obrigada, você também, tchau.
-Eu também te amo._Ele já havia desligado antes de eu dizer a última frase.

Joguei o celular sobre a cama e tirei a toalha, sequei meus cabelos, passei hidratante e vesti a primeira roupa de dormir que encontrei. Depois daquele telefonema eu não sabia como me sentir, e de repente percebi que não estava sentindo nada e que este não sentir nada nem era tão recente assim. Então pensei como seria bom passar o domingo sozinha. Ter um tempo só meu, ouvir minhas músicas, ver meus filmes bobos e dançar até cair, pensar nestas coisas quase me fez sorrir. Olhei o relógio, passava das 22h30min então resolvi ligar o computador e então entre minhas notificações e mensagens bobas me deparo com uma foto daquele outro rapaz que andava me tirando o sono, Vincent! Fiquei alguns minutos observando a fotografia e o pensamento voou. E era quase como se aqueles olhos castanhos me sugassem para si. Comecei a passar os olhos pela página, mas por mais que eu visse ou lesse outras coisas aqueles olhos castanhos não saiam da minha cabeça e a cada reflexo daquela memória uma onda de arrepios percorria meu corpo. Então alguém me chamou no chat, era ele. 

CONTINUA...





14 março 2013

Capítulo 02

ESCRITO POR: MAYRA BORGES


Nada está claro o suficiente e sei que a impressão é a de que tenha começado a contar uma história pela metade, mas não é nada disso. A história começa exatamente ai, eis o primeiro ponto dessa costura. E sendo assim eu me apresento como uma das linhas que serão traçadas neste enredo. Talvez um pouco clichê, mas sinceramente não é isso que me importa. Me chamo Miriam e tenho 23 anos, curso o 4º período de administração e sinceramente não sei se é o que eu realmente quero fazer. Divido um apartamento com duas colegas da faculdade, trabalho como auxiliar administrativa em um escritório de contabilidade e estou atolada até o pescoço em um relacionamento complicado. Não é algo que renda uma autobiografia ou algo do gênero e nem me interesso por isso, o que realmente quero contar vai um pouco mais além da monocromia deste tom azul fechado, vulgo minha vida.
                Imersa na mesma melodia do disco arranhado, faixa 23, é exatamente onde estou agora, era exatamente onde estava quando conheci o Vincent. Apenas mais uma linha desta costura que geralmente termina aos 80 anos em média. Deixei muitas lacunas em aberto, mas agora sinto a necessidade de respondê-las. A primeira creio ter preenchido, quem sou eu? Temo não ter dado uma resposta muito esclarecedora, mas a melhor que pude. Quem é Vincent? Esta é uma boa pergunta, e mais uma vez receio não poder dar nada mais que uma resposta superficial. Mas esta história apenas começa, não se pode saber muito antes da hora. O que digo é que ele apareceu em um momento como qualquer outro, nem hora certa nem errada. Apenas alguns minutos antes da hora do almoço e no começo talvez nem eu tenha prestado atenção, já que estava certa de erros e com fome de outras coisas.
                Mas antes que comecem a imaginar que esta é uma bela história de amor com um fim comum, não é nada disso. É uma história de amizade, descobertas e inquietudes, sem intenção de premeditar algum fim. É uma história de mudar de opinião, de ver de outro jeito, de realizar tantos desejos e confessar alguns segredos. Agora é o momento em que me forço a deixar de lado a prolixidade para responder algumas questões de maneira mais concisa. Como conheci o Vincent? Pela internet. De onde ele é? Minas. De onde eu sou? De longe. O que nos levou ao diálogo anterior? Sinceridades. Talvez queiram saber o que significou dizer “Nossos compromissos, outras pessoas” Sim, assim como eu ele também tem namorada, mas se tem uma coisa que aprendi é que o desejo, seja como for, independente de qualquer circunstância; pode surgir e que em alguns momentos é impossível sublimá-lo. Posso completar dizendo que nada foi de propósito, apenas aconteceu e continua acontecendo. 

Continua...




12 março 2013

capítulo 01

                                         




-Seria legal sentir seu cheiro agora.
A mensagem piscou na tela do meu computador. Pensei na resposta, a mais sincera possível, não sabia se deveria digitar e enviar, por fim resolvi que guardar para mim o queria dizer não era a  melhor opção. Respondi:
-Seria legal ver o teu sorriso de perto. Já disse que o acho lindo?
-Não disse. Sentir cheiro e sorriso de perto... Arriscado.
-Um pouco, mas o que é a vida sem riscos?
-E que risco você imagina?
Ele tem o dom de fazer perguntas que me obrigam a pensar duas vezes antes de responder. Por um momento meu pensamento se fixou em fogo e pólvora. Apenas uma faísca seria suficiente para causar uma explosão. Quis ser direta, mas por um momento senti-me desencorajada a dizer o que estava pensando e devolvi a pergunta. Talvez quisesse fazê-lo falar antes de mim. 
                -Você falou em riscos primeiro, o mais justo é que você fale quais riscos imaginou.
                -Será que vale a pena falar ou eu devo testar meu autocontrole?
                -Acredito que vale a pena falar.
Eu conseguia imaginar as palavras que ele estava prestes a dizer, mas ainda assim precisava ter certeza delas. 
                -Por que vale a pena?
                -Acho melhor eu dizer isso logo de uma vez._Simplesmente não consegui adiar mais o que precisava dizer. Não fiz muita ideia de onde aquilo me levaria, mas naquele momento saber do resultado não era importante, não é importante. Deixei qualquer hesitação de lado e disse o que se passava em minha mente: 
                -Eu apenas imagino o quanto é perigoso riscar um fósforo muito próximo à pólvora.
                -Estava esperando uma explosão mesmo. O cheiro do seu cabelo, pescoço... Acho melhor parar por aqui.
Eu sorri, fechei os olhos e tentei imaginar a expressão dele e me vi novamente desejando que ele estivesse comigo. Mas então o pensamento recaiu em explosões e o quão destrutivas podem ser, isso me deixou mais sóbria aquele momento. 
                -Explosões costumam ser rápidas e destrutivas demais..._digitei. 
Foi então que acabei sendo atingida por um pensamento inesperado. Minha mente levou-me para aquela sala onde olhos verdes me fitavam assustadoramente e braços  me seguravam forte e violentamente. Balancei a cabeça e me pus a perguntar pelá enésima vez "Até quando iriei lembrar-me desta história imunda?" Resolvi ignorar este pensamento, decidi que seria a última vez que me deteria devido aquela lembrança. Pensei que nada naquela história havia sido em vão, mas que já estava na hora de começar a acreditar que raios não caem duas vezes no mesmo lugar. 
                -Neste caso, você acha que uma explosão poderia destruir algo?_ele perguntou.
                -Não sei, mas acredito que não. Você joga limpo, todas as cartas na mesa...
                -Entendo.
                -Prefiro pensar em fogos de artifício, com um bom planejamento não machucam ninguém, deixam apenas o encanto.
                -Melhor assim.
                -A gente ta conversando em entrelinhas há algum tempo. Poucas pessoas se entenderiam tão bem assim.
                -Se desejar pode sair das entrelinhas. E sobre nos entendermos, talvez a distância ajude.
                -É como querer o que não se pode ter.
                -Você me quer?
Parei para pensar na resposta, ele eu, nossos compromissos, outras pessoas... Nada disso fez sentido ou foi levado em consideração na hora em que resolvi assumir os riscos, fechar os olhos e pular. Respondi:
                -Sim, eu quero. 

Continua...




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