21 março 2014

Capítulo 39

Por: Mayra Borges


Não houve pausa, as palavras mostraram-se completamente desnecessárias diante do que se seguiu. Não foi um beijo entre o mocinho e a mocinha nem entre o vilão e a vilã da novela ou dos filmes de Hollywood, foi algo que câmera nenhuma conseguiria transmitir, foi suave e intenso ao mesmo tempo, arrebatador...  Senti como se eu estivesse em pausa todo aquele tempo esperando apenas por aquele beijo para começar a viver.

            Ele me puxou contra o peito com vontade, nossas bocas não pararam hesitantes antes que se encontrassem, tomaram-se com avidez, nossas mãos mergulhavam entre os cabelos um do outro, deslizavam pelas costas e pelos braços, encontravam-se e novamente perdiam-se pelos nossos caminhos. Tínhamos sede e urgência naquele beijo e tantos outros que se seguiram depois desse. Por vezes nos esquecíamos de respirar, nos beijávamos entre sorrisos, entre dentes, entre saliva, língua e desejo, um desejo sem precedentes, incontrolável e incendiário. E cada um daqueles beijos quentes, úmidos, urgentes e sedentos que se seguiram pareceram durar o mesmo tempo das coisas infinitas.

            Abrimos os olhos depois de algum tempo. Meu peito ardia, aspirei profundamente e soltei o ar devagar. Vincent inclinou o rosto na minha direção, chegou a quase encostar os lábios na minha orelha – o que me provocou uma sequência de pequenos arrepios – e perguntou:

            - Isso responde a sua pergunta? – sua voz estava grave e rouca.

Fiz que sim com a cabeça e em seguida pedi:

            - Me leva daqui – foi um sussurro carregado de urgência.
            - Não sem antes saber. – seu rosto assumiu um ar sério e penetrante quase que de repente.

Seus olhos me fitavam com uma intensidade e eu sentia-me afogar dentro deles, cercada de fogo e mistério por todos os lados, e eu sei que ele podia ver a mesma intensidade flamejar dentro dos meus olhos.

            - Saber o quê? – respondi sentindo o ar faltar mais uma vez.
            - Você me quer?

Após perguntar, Vinc beijou delicadamente o meu pescoço o que me fez soltar um gemido baixo cheio de expectativa e excitação.

            - Me tira daqui e eu te dou a resposta. – disse por fim, quase tropeçando nas palavras e engasgando com o ar. 

Ele sorriu e nos beijamos mais uma vez e se me perguntassem eu não saberia responder, quem eu era, onde estava e nem que dia era da semana. Naquele momento eu era fogo, desejo e nada mais que isso. Meu corpo vibrava em seus braços e era tudo que eu precisava sentir e saber.

            Vinc afastou-se de mim com certo esforço e saiu do carro, eu respirei fundo e fiz o mesmo, senti minhas pernas tremerem e um sorriso irredutível se instalar nos meus lábios de um vermelho borrado, uma embriaguez tomou conta do meu corpo, eu sentia-me leve, mas ao mesmo tempo tinha a sensação de que não conseguiria me mover.

            - Vem comigo. – falou oferecendo-me o braço.

Seguimos escada a cima quebrando o silêncio com o som dos nossos passos apressados. O gosto dele estava na minha boca e ainda não me distanciara da sensação do toque quente de suas mãos deslizando pelas minhas costas e acariciando minha nuca. Entramos no elevador, minhas mãos estavam suadas e meu coração batia forte, Vinc estava em silêncio, mas eu podia sentir seu olhar fixo em mim. Paramos no terceiro andar, o prédio era simples e por mais que eu tentasse não conseguia prestar atenção aos detalhes. Depois de alguns curtos minutos nos encontrávamos parados em frente ao apartamento 32.

            Entramos, Vinc acendeu a luz da sala e eu passei os olhos levianamente pelo cômodo, havia uma estante organizada de livros, CDs, DVDs e objetos aos quais não prestei atenção. A sala era pequena, mas confortável e eu sentia aquele perfume tão característico dele suspenso no ar. A janela estava fechada e havia algumas revistas espalhadas sobre o sofá preto de vinil.

            - O que achou? – Vinc perguntou sem muito interesse na minha resposta.
            - Confortável. – Respondi sem muita convicção.

De repente eu senti-me tensa, sem saber o que fazer, para onde olhar e o que dizer. Vincent então se aproximou de mim e me puxou de encontro a si e novamente senti arrepios percorrendo meu corpo como se fossem pequenas descargas elétricas. Eu sorri, esquecendo completamente a tensão que se instalara em mim. Ele me olhou por alguns segundos e então me beijou com ainda mais vontade que antes, e eu retribui aquele beijo como se fosse o último da minha vida, havia um desespero em mim que eu tentava repelir a todo o momento, mas que cada vez mais se apoderava dos meus gestos.

Nossos corpos se encontravam, eu puxava-o cada vez mais forte de encontro ao meu corpo querendo eliminar qualquer distância que se interpusesse entre nós, nossas bocas perdiam-se entre beijos sôfregos, uma fina camada de suor brotava em minha testa e eu já podia sentir os fios de cabelo grudando na pele, eu sentia que derretia a cada segundo e nunca essa sensação foi tão agradável. Vinc brincava com as mãos em minhas costas até deslizá-las para dentro da minha camiseta, eu brincava com meus dedos entre seus cabelos macios, e minha língua percorria seu pescoço.

Não era necessário fazer perguntas nem dizer mais nada, tudo já havia sido dito, já havíamos esperado tempo demais, as palavras eram inúteis. Deixamos o desejo falar mais alto que tudo. Eu sentia algo transbordar em mim, um sentimento sem precedentes, uma mistura de medo e coragem, sonho e realidade, euforia... Eu apenas me entregava cada vez mais, sem hesitações.


Vinc mordeu meus lábios e me puxou contra si com ainda mais vontade, eu podia sentir cada centímetro do seu corpo quente e forte sob a roupa, mas eu queria mais, nós queríamos mais. Ele novamente colocou as mãos por baixo da minha camiseta acariciou minhas costas, parou de me beijar por um instante e me fitou intensamente, eu sorri ofegante e ergui os braços, ele então retirou minha camiseta com agilidade, voltou a me beijar os lábios, a face, o queixo, o pescoço, os ombros... Num gesto quase despretensioso derrubou as alças do meu sutiã, suas mãos acariciaram minhas costas mais uma vez, eu inclinei a cabeça para trás enquanto ele beijava mordia devagar o meu pescoço. Eu então segurei seus pulsos e ergui seus braços, retirei sua camisa e a joguei pra longe. Pressionei ainda mais meus quadris contra o dele, ele soltou um suspiro abafado, eu sorri e mordi sua orelha devagar, me deliciando com o prazer de senti-lo cada vez  mais perto de mim...


CONTINUA...



13 março 2014

Capítulo 38

Por: Mayra Borges




- Eu adorei a praia. – disse enquanto brincava com uma mecha do meu cabelo.
- Eu sabia que ia gostar, não sei porquê, mas não consigo imaginar você à vontade em um restaurante ou algo assim... – hesitou e completou – entende o que quero dizer, não é?
- Claro. Você quer dizer que sou tímida e preciso de um lugar onde eu possa me expressar de uma forma mais aberta e livre, estou certa? – disse, usando as palavras que ele havia deixado suspensas nas entrelinhas e completando com um sorriso casual.

Com um gesto de cabeça ele confirmou que eu estava certa e mais uma vez ficou absolutamente claro para mim que ele estava mesmo me guiando, me levando exatamente aonde queria que eu fosse. À sombra desse pensamento eu não pude controlar e meu sorriso casual desmanchou-se num riso distraído e displicente de quem ri de uma piada ou de uma certeza interna e óbvia.

            - Do que está rindo?
            - De nada.
            - Acho que vou ter que me acostumar com isso.
            - Com o que, exatamente?
            - Com o fato de que seus sorrisos são sempre um mistério para mim.
            - Assim como eu vou ter que me acostumar com o fato de que seus olhos são sempre um mistério pra mim.
            - Eu explicaria pra você se soubesse como.
            - Eu explicaria pra você se soubesse como. – repeti.
            - Mas temos que concordar que explicar o motivo de um sorriso é muito mais fácil que explicar um olhar.
            - Se eu fosse você não teria tanta certeza quanto a isso.
            - Ok, cada um com seus mistérios.
            - De acordo. – disse alegremente entre um sorriso e emendei – não tem graça quando a gente consegue saber tudo sobre a outra pessoa de uma só vez, se não houver nenhum mistério também não há nenhum encanto, você não concorda?
            - De certa forma eu concordo sim. Acontece que estar com você é a mesma coisa que ler um livro a medida que ele vai sendo escrito, é impossível adiantar algumas páginas e ver do que realmente se trata.
            - Eu sempre me achei tão transparente.
            - Pra você é bastante fácil dizer isso.
            - Por quê?
            - Você é dona de si, se conhece desde que nasceu. – ele me observou e pela dúvida refletida em meu rosto completou – ou não?
            - Eu não tenho tanta certeza disso, confesso que nos últimos meses tenho me visto mudar em muitos aspectos.
            - Tudo isso estava dentro de você e você só está colocando pra fora sem se reprimir por isso, estou certo?
            - Não desse jeito tão simples. Uma lagarta não... – parei no meio da frase por perceber que o que estava prestes a dizer era estúpido e clichê demais até pra mim.

Vincent me olhou atentamente e esperou que eu continuasse, mas fiquei em silêncio e olhei a rua através da janela do carro, mais uma vez constatei que o mundo lá fora era um enorme borrão, não porque Vincent estivesse dirigindo rápido demais – muito pelo contrário ele parecia ser mais cauteloso do que eu esperava – minha mente é que não conseguia pensar em mais nada além de nós dois ali.

            - Uma lagarta não, o quê?

Vincent indagou e o som da sua voz me fez voltar à realidade.  

            - Não nada. Era uma frase estúpida.
            - Tem a ver com borboletas e metamorfoses e esse tipo de coisa?

Eu sorri desconcertada e fiz que sim com a cabeça.

            - Não é estúpida é só uma analogia óbvia demais, mas nem por isso você deixa de estar certa.
            - É só que falar sobre isso vai invariavelmente me levar aos mimimis e eu não estou interessada em refletir sobre isso esta noite.
            - Que bom.

Nós dois rimos alegremente.  

            - Pra onde estamos indo? – perguntei, finalmente cedendo à curiosidade.
            - Para um lugar sem provas, não foi isso que você me pediu?
            - Foi, mas que tipo de lugar é esse?
            - Não consegue imaginar?
            - Você sabe, sou péssima em tentar adivinhar você.
            - Estamos indo pro meu apartamento, se não se importar.
            - Não me importo.

Tentei, mas não consegui dissimular a surpresa que senti naquele momento.

            - Algum problema?
            - Nenhum, eu só não esperava que você fosse mesmo me contar pra onde estávamos indo.
            - Na verdade eu só não disse antes porque você não perguntou. – ele sorriu e apertou o volante.

O apartamento dele seria o último lugar que eu pensaria e saber que estávamos indo pra lá de algum modo me deixou mais aliviada e fingi não saber o motivo do meu alívio.

Alguns minutos depois Vincent anunciou alegremente:

- Chegamos.
            - Ótimo.

Ele entrou na garagem e estacionou tranquilamente. Eu apertei as pontas dos dedos e reprimi um suspiro, é claro que eu estava agitada com tudo aquilo, eu havia imaginado tudo por muito tempo, mas ali as coisas eram reais, eu tinha expectativas, mas sinceramente não sabia o que esperar. Confesso que havia um medo de que as coisas pudessem sair terrivelmente erradas porque já não havia mais possibilidade alguma de voltar atrás.

Antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa senti que Vincent olhava pra mim e tudo que eu pude fazer foi fitá-lo de volta e me deixar mergulhar naqueles olhos negros e indecifráveis. Ele então se aproximou de mim e o cheiro do seu perfume me atingiu em cheio. Tudo nele era tão contraditório de uma forma que eu não sabia explicar como, mas eu queria entendê-lo, queria senti-lo e saber que ele era de verdade.

- Às vezes eu gosto de pensar naquele dia... – eu falei devagar sentindo a agitação das palavras e das lembranças dentro de mim.
- Que dia? – Ele respondeu, quase perto demais do meu rosto.

Eu dei uma pequena pausa, sorri quase timidamente e me aproximei de uma forma que os meus lábios quase tocavam o lóbulo da sua orelha, perguntei num sussurro:

            - Você me quer?

Vincent não disse uma palavra sequer, mas naquele instante eu senti que em algum lugar no universo uma estrela acabava de surgir, porque a explosão que aconteceu dentro daquele carro naquele momento, tinha sim a força necessária pra criar novos astros.


CONTINUA...