26 janeiro 2014

capítulo 36


Ele assentiu, levou a mão à nunca e me dispensou um de seus sorrisos infalíveis que se não me deixavam com as pernas bambas, me faziam sorrir de volta de uma maneira quase infantil de tão tola.

            - Fica difícil quando você fala isso desse jeito, com esses lábios tão irresistíveis._ele disse ao mesmo tempo em que colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha.
            - Você também não colabora muito._respondi.

Sentei-me em um dos muitos bancos postos ao longo do calçadão e Vincent fez o mesmo. Fiquei em silêncio de propósito, contemplei o ir e vir das ondas e a brisa marinha. Tirei os tênis que estava usando.

            - O que você está fazendo?
            - Tirando os sapatos, algum problema?
            - Não nenhum é só que...

Fiquei de pé e com um sorriso no rosto. Ele me olhou com ares de confusão e eu disse:

            - Vem!

Antes que ele pudesse perguntar alguma coisa eu já estava com os pés na areia, correndo, queria me divertir sem me importar com mais nada, decidi que a partir daquele momento eu faria o que me desse na telha, às vezes a gente precisa de um pouco de coragem louca pra ser feliz. Vincent correu atrás de mim e depois de algum tempo conseguiu me alcançar. Paramos, arfando, mas com fôlego suficiente para cairmos na risada.  

            - Desculpa._disse depois de alguns segundos.
            - Pelo quê?
            - Por eu ser assim.
            - Assim como? Imprevisível? Autentica?
            - Eu ia dizer infantil.
            - Não, você tem seu jeito de menina, mas é natural, envolvente. Eu gosto disso, é especial.


Aquela frase me fez voltar à adolescência e de repente eu me deparava novamente com o fato de que eu sempre fui o tipo de garota clichê, romântica, sentimental, destrambelhada, que nunca sabia as melhores palavras pra dizer, que estava sempre com um milhão de sonhos na cabeça, os pés fora do chão e que por consequência já tinha perdido as contas das noites em que fora dormir com lágrimas nos olhos e um aperto insuportável no peito.

Por que eu? Era uma pergunta que não saia da minha cabeça e eu me obrigava a não querer acreditar na resposta “porque você é autêntica... Especial”. Ele tinha uma namorada, então fosse como fosse, não queria entender o que ele sentia por mim, se eram sentimentos verdadeiros ou falsos isso pouco me importava, no fim das contas eu iria embora, ela não. No fundo eu sabia que ia acabar me machucando de algum jeito, mas não me importei, já havia feito a minha escolha. Não queria mais pensar se era tudo um engano, se era certo ou errado e sobre como tudo ficaria depois. Naquele instante senti-me diferente, estava firme e convicta, sentia segurança correr nas minhas veias, eu queria aquele homem, mesmo que por uma noite apenas. Respirei fundo – um pouco de coragem louca – deixei que o meu desejo falasse mais alto:

- Me leva daqui.
- Pra onde você quer ir?
- Pra qualquer lugar onde não haja testemunhas.
- Seu desejo é uma ordem.

Enquanto voltávamos para o carro me pus a imaginar o que eu sentiria, mas era impossível saber.