Tinha a
sensação de que o mundo fora daquele apartamento nunca existira de fato, e que
minha vida até ali havia sido mera ficção. A cada segundo novas sensações atravessavam
o meu corpo e minha mente, entreguei-me sem medidas, fluí correnteza. Diante
dos meus olhos semicerrados o tempo desacelerava e já não existiam mais amanhãs
nos calendários. Tal intensidade me fazia sentir como se minha vida estivesse
resumida ali, mesmo que aquele ali não passasse de alguns minutos, mesmo que aquele muito fosse ser tão pouco.
- Você me quer?
- Você acabou de fazer essa
pergunta, não foi? – respondi, quase sem voz.
- Você ainda não deu a resposta que
eu quero ouvir. – sussurrou.
- O que você quer ouvir Vincent? –
perguntei, estremeci.
- Você me quer? – Ele insistiu.
Aquela
noite demos vida às palavras, aos desejos; através dos gestos, dos tons, dos toques...
Aquela noite nos tornamos finalmente intérpretes da história que havíamos escrito.
Vinc não fazia aquela pergunta porque tinha dúvida quanto à resposta, a ele
não interessava somente o óbvio, mas as palavras certas, para mim foi fácil
entender isso, porque era exatamente o que eu queria, não era uma brincadeira
ou um capricho. Todas as nossas conversas passaram como um sonho, e ao
pronunciar todas as frases antes escritas transformávamos o sonho em realidade,
estávamos entre o passado e o agora, havia em nós a necessidade latente de unir
as duas faces da história em um único momento que fosse: absolutamente real e
ao alcance dos dedos, dos olhos, dos ouvidos, da pele e do ser inteiro,
presente e passado coexistentes.
- Sim, eu quero. – sussurrei em seu
ouvido enquanto brincava com os dedos na sua nuca e meus olhos absorviam a
imagem daquele rosto impenetrável.
- De que forma? – Um sorriso
formou-se em seus lábios, provocante.
- Não está claro o bastante? –
devagar mordi seu lábio, Vinc devolveu com um beijo rápido.
- De que forma? – Insistiu.
Eu sabia
o que ele queria ouvir, mordi o lábio, pus meus braços em volta do seu pescoço,
senti os movimentos do seu peito, sua respiração apressada e irregular; beijei
sua face e aproximando bem os meus lábios do seu ouvido falei devagar enquanto
mergulhava meus olhos nos dele:
- Eu quero você na minha cama, por uma noite, por
um momento ou por quantos vierem.
Vinc me
estreitou ainda mais em seus braços, eu podia sentir as centenas de quilômetros
que outrora nos separavam dissolvendo-se no suor dos nossos corpos juntos. Meu
coração batia forte, engoli seco. Vinc então respondeu:
- Você me tira do sério, garota.
- Eu sei.
Com uma
mão na minha cintura e outra na minha nuca ele me puxou contra o peito e me
beijou de uma forma como eu nunca havia sido beijada, meu corpo inteiro despertou,
eu estava trêmula, meus cabelos grudavam na pele com o suor. Senti suas mãos
deterem-se um momento no fecho do meu sutiã que em alguns segundos estava aos
meus pés, continuamos nos beijando como se fossem os últimos beijos de nossas
vidas. Vinc me guiava aos tropeços pela casa, esbarrávamos em móveis, batíamos
nas paredes, e íamos formando uma trilha de roupas pelo chão.
De repente cada centímetro do meu
corpo podia sentir o dele, eu já conseguia prever a sensação – mesmo que
ilusória – de que seríamos um só. Por fim chegamos no quarto...
CONTINUA...