08 setembro 2013

Cápitulo 27

ESCRITO POR: MAYRA BORGES

Acordei com a chamada do celular e demorei alguns segundos pra perceber que não era o despertador. Levantei rápido e minha cabeça girou e tudo ficou escuro por alguns segundos, caí sentada na cama até conseguir atender:
         - Alô!_ atendi com a voz de sono.
         - Miriam?
         - Sim, quem é?
Escutei um riso seco do outro lado da linha.
         - Desculpe ter te tirado da cama.
         - Quem é?_ insisti.
         - Vincent, não está mais reconhecendo a minha voz?
         - Ahh você, também, quanto tempo não é mesmo?_ Meu coração se animou no peito, um sorriso idiota se instalou nos meus lábios e lá estava eu mais uma vez, cedendo e ignorando que aquela dor de cabeça era quase culpa dele. “Seja indiferente, seja indiferente” minha mente gritava.
         - Muito trabalho...
         - Faculdade e afins, não precisa se desculpar eu já entendi_ completei a frase, mal humorada e ele simplesmente fingiu que eu não o havia interrompido, continuou como se o assunto sequer tivesse sido mencionado.
         - Tudo bem com você?_ perguntou com aquele sotaque sutil por trás das palavras.
         - Tá, tudo bem, pensei que você nunca mais fosse dar as caras._ sorri numa tentativa de parecer indiferente, mas definitivamente não estava sendo bem sucedida.
         - Mas estou aqui, alguma novidade, está tudo bem mesmo?
         - Está tudo legal sim._”Como se você se importasse” completei a frase mentalmente e dei de ombros.
         - Alguma novidade?
Pensei em contar tudo o que havia acontecido, do término do meu namoro, do encontrão com o moço na rua que havia resultado em passagens impulsivamente compradas, e da dívida do meu cartão de crédito, mas me decidi por omitir.
         - Não nenhuma.
         - Hum, ok. Então, eu só liguei pra avisar que estou vivo e que ficarei online mais tarde, se quiser conversar.
         - Conversar ou tirar a roupa?_ quando dei por mim já havia deixado escapar e com um tom quase agressivo e ressentido, mas isso não fez diferença já que não surtiu nenhum efeito, além de provocar aquele riso curto e quase seco que penetrou a fundo a memória, me fazendo imaginar a curva dos lábios, os dentes brancos e as covinhas na bochecha, estremeci e abri os olhos suprimindo um suspiro e pensando “Você deveria ficar brava e não encantada sua idiota”.
         - Conversar, mas se quiser tirar a roupa não farei nenhuma objeção, será um prazer, não tenha dúvida disso._disse ele, novamente indiferente a qualquer sinal que eu tenha dado de ressentimento, me deixando desarmada e com um sorriso involuntário no canto dos lábios, realmente não seria uma má ideia, e mesmo não tendo dito aquilo como proposta, no fim foi com o que pareceu. “Idiota” “É ele que me provoca” as ideias gritavam dentro da minha cabeça que latejava e girava devagar.
            - Eu já contei que você não presta?_disse, por fim cedendo completamente aquele jogo.
            - Foi você quem falou, eu não disse nada e bem, eu sei que você gosta, confesse!
            - Devo gostar mesmo pra fazer o que fiz.
            - O que você fez? Não me diga que finalmente resolveu escrever um livro sobre mim?
            - Ahh meu Deus, como você adivinhou? Claro, as pessoas realmente precisam conhecer você e toda essa presunção. Desculpe, Vinc, mas, o mundo não gira em torno de você, sinto muito._disse toda verdade com o meu tom mais zombeteiro e ele sorriu novamente, desta vez de uma forma mais solta e aparentemente mais sincera.
            - O que foi que você fez branca?_usou de um tom quase carinhoso. “Droga” pensei.
            - Eu comprei passagens._levei a mão livre e massageei as têmporas, numa tentativa estúpida de aliviar a dor de cabeça.
            - Pra onde?_ fez-se de desentendido, mas eu notei quase um tom de empolgação na voz dele, ou isso ou era a minha imaginação me pregando mais uma peça. 
            - Não consegue mesmo imaginar?
Ele riu e respondeu:
            - Não.
            - Vai mesmo ficar online mais tarde?
            - Vou.
            - Mais tarde a gente conversa. Agora estou morrendo de dor de cabeça e definitivamente não estou no meu juízo normal.
            - Eu gosto quando você perde o juízo, mas vá descansar, quero saber pra onde a moçinha resolveu viajar.
            - Não se faça de bobo.
            - Ué, não estou!_protelou de forma nada convincente.
            - Tá bom, não está.
            - Vou desligar então.
            - Ok. Beijos e até mais tarde.
            - Certo, te espero pra gente conversar, tirar a roupa, fazer o que você quiser, ta legal?
            - Ótimo, Vinc, beijos até mais.
            - Até.