ESCRITO POR: MAYRA BORGES
Acordei com a chamada do celular e demorei alguns segundos pra
perceber que não era o despertador. Levantei rápido e minha cabeça girou e tudo
ficou escuro por alguns segundos, caí sentada na cama até conseguir atender:
- Alô!_ atendi
com a voz de sono.
- Miriam?
- Sim, quem é?
Escutei um riso seco do outro lado da linha.
- Desculpe ter
te tirado da cama.
- Quem é?_
insisti.
- Vincent, não
está mais reconhecendo a minha voz?
- Ahh você,
também, quanto tempo não é mesmo?_ Meu coração se animou no peito, um sorriso
idiota se instalou nos meus lábios e lá estava eu mais uma vez, cedendo e
ignorando que aquela dor de cabeça era quase culpa dele. “Seja indiferente,
seja indiferente” minha mente gritava.
- Muito
trabalho...
- Faculdade e
afins, não precisa se desculpar eu já entendi_ completei a frase, mal humorada
e ele simplesmente fingiu que eu não o havia interrompido, continuou como se o
assunto sequer tivesse sido mencionado.
- Tudo bem com
você?_ perguntou com aquele sotaque sutil por trás das palavras.
- Tá, tudo bem,
pensei que você nunca mais fosse dar as caras._ sorri numa tentativa de parecer
indiferente, mas definitivamente não estava sendo bem sucedida.
- Mas estou
aqui, alguma novidade, está tudo bem mesmo?
- Está tudo
legal sim._”Como se você se importasse” completei a frase mentalmente e dei de
ombros.
- Alguma
novidade?
Pensei em contar tudo o que havia acontecido, do término do meu
namoro, do encontrão com o moço na rua que havia resultado em passagens
impulsivamente compradas, e da dívida do meu cartão de crédito, mas me decidi
por omitir.
- Não nenhuma.
- Hum, ok.
Então, eu só liguei pra avisar que estou vivo e que ficarei online mais tarde,
se quiser conversar.
- Conversar ou
tirar a roupa?_ quando dei por mim já havia deixado escapar e com um tom quase
agressivo e ressentido, mas isso não fez diferença já que não surtiu nenhum
efeito, além de provocar aquele riso curto e quase seco que penetrou a fundo a
memória, me fazendo imaginar a curva dos lábios, os dentes brancos e as
covinhas na bochecha, estremeci e abri os olhos suprimindo um suspiro e
pensando “Você deveria ficar brava e não encantada sua idiota”.
- Conversar,
mas se quiser tirar a roupa não farei nenhuma objeção, será um prazer, não
tenha dúvida disso._disse ele, novamente indiferente a qualquer sinal que eu
tenha dado de ressentimento, me deixando desarmada e com um sorriso
involuntário no canto dos lábios, realmente não seria uma má ideia, e mesmo não
tendo dito aquilo como proposta, no fim foi com o que pareceu. “Idiota” “É ele
que me provoca” as ideias gritavam dentro da minha cabeça que latejava e girava
devagar.
- Eu já contei
que você não presta?_disse, por fim cedendo completamente aquele jogo.
- Foi você quem
falou, eu não disse nada e bem, eu sei que você gosta, confesse!
- Devo gostar
mesmo pra fazer o que fiz.
- O que você
fez? Não me diga que finalmente resolveu escrever um livro sobre mim?
- Ahh meu Deus,
como você adivinhou? Claro, as pessoas realmente precisam conhecer você e toda
essa presunção. Desculpe, Vinc, mas, o mundo não gira em torno de você, sinto
muito._disse toda verdade com o meu tom mais zombeteiro e ele sorriu novamente,
desta vez de uma forma mais solta e aparentemente mais sincera.
- O que foi que
você fez branca?_usou de um tom quase carinhoso. “Droga” pensei.
- Eu comprei
passagens._levei a mão livre e massageei as têmporas, numa tentativa estúpida
de aliviar a dor de cabeça.
- Pra onde?_
fez-se de desentendido, mas eu notei quase um tom de empolgação na voz dele, ou
isso ou era a minha imaginação me pregando mais uma peça.
- Não consegue
mesmo imaginar?
Ele riu e respondeu:
- Não.
- Vai mesmo
ficar online mais tarde?
- Vou.
- Mais tarde a
gente conversa. Agora estou morrendo de dor de cabeça e definitivamente não
estou no meu juízo normal.
- Eu gosto
quando você perde o juízo, mas vá descansar, quero saber pra onde a moçinha
resolveu viajar.
- Não se faça
de bobo.
- Ué, não
estou!_protelou de forma nada convincente.
- Tá bom, não
está.
- Vou desligar
então.
- Ok. Beijos e
até mais tarde.
- Certo, te
espero pra gente conversar, tirar a roupa, fazer o que você quiser, ta legal?
- Ótimo, Vinc,
beijos até mais.
- Até.