08 novembro 2013

Capítulo 30

ESCRITO POR: MAYRA BORGES


O que aconteceu na semana seguinte após essa conversa pode ser facilmente resumido em ansiedade, euforia e muitas xícaras de café. Misturei sentimentos como quem prepara uma bebida forte e tomei tudo de uma vez, embaralhando-os ao ponto de não conseguir descrevê-los e tendo a sensação de que se o fizesse estaria apenas compondo a história com uma parte disforme e sem sentido.

Tudo realmente entrou em foco quando coloquei os pés no aeroporto e por fim pensei pela milionésima vez na loucura que estava prestes a fazer. Fiz o Chek-in e me sentei em uma daquelas cadeiras desconfortáveis esperando o momento do embarque. Meu estômago arriscou sair pela boa umas três vezes e pensei que em algum momento iria acabar precisando de um cardiologista, mas ao final lá estava eu sentada na poltrona do avião, ouvindo as instruções da aeromoça e observando a cidade ficar pequena sob os meus pés.

Poderia me perder em inúmeras divagações com toda a metáfora que se apresentava através da janela daquele avião, o mundo era pequeno e eu era infinitamente menor que o mundo... É exatamente assim, não é mesmo? A gente tenta fugir o quanto pode dos nossos pensamentos, com receio do que eles possam plantar de incerto dentro das nossas certezas, era o que eu estava tentando fazer, me apegando a filosofias não condizentes com o momento simplesmente pelo medo de cair num mar de dúvidas, mas não consegui correr muito, logo senti a água fria dos questionamentos e receios óbvios lambendo minhas pernas e como era de se esperar eu estava de calças curtas. O mundo era pequeno e eu era infinitamente menor que o mundo, de certo ele me devoraria.

Respirei fundo e mentalmente fui vendo cada uma das minhas frágeis certezas travar uma batalha injusta contra as numerosas dúvidas e os gigantescos medos que me assolavam. No que julguei ser o final daquela luta desigual, havia algo de pé, uma certeza que escapara ilesa, um sinal pelo qual valeria continuar. Eu conhecia um Vincent, mas não sabia se aquele era o verdadeiro, mas mesmo diante disso havia em mim um sentimento imprudente de autoconhecimento, loucura, paixão e então pensei e sorri no meio a meio daquela certeza “Que importa restarem cinzas, se a chama foi bela e alta?” Quando o avião enfim pousou e eu pus meus pés em terra era eu quem estava firme e definitivamente decidida sem a menor possibilidade de me arrepender pelo que quer que fosse.