14 abril 2013

Capítulo 09


ESCRITO POR: MAYRA BORGES

Ao longo dessa história sinto que terei que criar reapresentações de mim, porque tenho mudado, basta o fim de um parágrafo e pronto! Já não sou mais a mesma. Por outro lado talvez, isso não seja necessário, quem lê minhas entrelinhas consegue ver essa transição sutil entre meus opostos e isso basta.
A página em branco tem me angustiado, não sei sobre o que eu devo escrever, pensei que escreveria sobre mim, mas isso tem ido além de mim e das coisas que faço, pensei que escreveria sobre meus amigos, sobre os lugares que gosto de ir e de como tenho me sentido, falar sobre a solidão que me acompanha calma e serena pensei que escreveria todas as histórias que acontecem em paralelo a minha, mas não, a história tem se resumido a um ponto específico. A narrativa tem deixado de lado todas as muitas histórias paralelas a esta, para se concentrar em um único lugar. Poderia contar o motivo pelo qual escrevo, é óbvio e tolo, escrevo para não esquecer, escrevo para organizar o que sinto, escrevo para perceber todas as mudanças, escrevo para tornar-me real. Leio-me nas entrelinhas também, tudo o que tenho perdido de mim, posso encontrar aqui.
Mas enquanto escrevia os parágrafos anteriores fui acometida pela urgência de certos olhos castanhos e indecisos na cor. Então chego ao ponto onde a minha história deixa de ser só minha para acolher outra. Vincent, receio nunca tê-lo apresentado a vocês de uma forma mais consistente e agora apresentá-lo torna-se minha urgência. Minha intenção também é torná-lo real, não que já não o seja, torná-lo real e eterno, pra mim. Perdoem a confusão das palavras.
O que o mistério pode definir e encerrar? Infinitas possibilidades que cabem na palavra: tudo. Na superfície, uma pele branca, cabelos lisos, escuros e quase na altura dos ombros, olhos em indeciso tom castanho, sobrancelhas grossas, lábios bem marcados pelas covinhas que o sorriso provoca. Ele tem em si qualquer coisa de buraco negro, suga-me para si sem qualquer ou mínima recompensa. E eu entrego-me pelo prazer de me dar. Quanto à profundidade dos olhos, parecem carregar em si mundos inteiros, olhos impenetráveis. Talvez seja pela distância, mas a impressão que tenho é a de que poderia fitá-lo por horas a fio e não descobrir nada. Talvez seja só a distância, talvez ele seja blindado, talvez eu seja míope ou talvez eu esteja me enganando. Gosto do sorriso é despudorado, mas também é infantil, simples, bonito, contagiante, malicioso, milhões de sorrisos em um só. É no sorriso que ele se revela, ou assim eu penso que seja.
Talvez eu devesse falar mais, mas é preciso que o conheçam pelas entrelinhas de suas próprias palavras. Sei que ainda é pouco, que é vago, mas pensando bem, o vago é tudo que eu tenho.

CONTINUA...

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