06 abril 2013

Capítulo 08


ESCRITO POR: MAYRA BORGES


Não foi fácil dormir aquela noite, pois eu queria mais, mais dele e principalmente mais de mim. Fiquei inquieta e a excitação perdurou por um tempo, curiosidade, desejo, medo, mas eu sabia que seria necessário caminhar devagar, seria como desfrutar de um bom vinho. Um bom Sommelier sabe apreciar e decodificar a maior quantidade possível de sensações que um bom vinho pode proporcionar. A bebida dos cinco sentidos. Vincent e eu dispúnhamos de apenas dois dos sentidos o que, contudo não era bastante para impedir a semelhança entre nossa relação e um bom vinho tinto, aroma penetrante, gosto aveludado. Eu seria o vinho, deixaria que ele me conhecesse e desfrutasse lentamente, despertaria nele sensações, por isso queria que fosse naturalmente devagar. Meu corpo arrepiou-se ao pensar na taça cristalina sendo gentilmente inclinada, primeiro para notar-se a consistência e a cor, depois para aguçar o olfato e por último, a taça fina e delicada indo de encontro aos lábios de Vincent, passando pela língua e garganta, aquecendo suavemente, uma pequena gota deslizando desleixada pelo queixo e minha língua atrevida sorvendo-a.
                E então minhas mãos inquietaram-se, eu me revirei na cama, fazia calor e meu corpo estava transpirando, de repente a respiração agitou-se junto aos batimentos cardíacos. Retirei a blusa e a roupa íntima que usava, mas a tentativa de amenizar o calor só servira para atenuar o desejo por prazer. Era inevitável, a todo o momento a imagem dele perpassava minha mente, não consegui resistir e não havia motivos para. Minhas mãos acariciaram meu rosto, meus cabelos, demorando-se nos seios, macios e alvos, a mão direita escorregou lentamente pela barriga até encontrar o ponto certo, e demorou-se em carícias alternadas, lentas, rápidas, suaves e intensas demais. O rosto dele vinha até minha mente, o vinho quente... Imaginei que eram as mãos dele a percorrer meu corpo inquieto, desejei aqueles lábios de sorriso faceiro e ordinário.  A mão esquerda agitava-se junto ao corpo, segurava forte o cabelo, arranhava suavemente os ombros desnudos. Sussurrei na ilusão de que ele pudesse me ouvir: Vincent. Aquele homem, que homem!
                O quarto estava escuro, meus olhos estavam fechados e minha mente já não pensava em mais nada além do momento. Minha boca entreabriu-se a espera de um beijo que por certo era proibido e que de certo sequer aconteceria, usei os dedos nos lábios devagar provocando pequenos arrepios. A respiração sôfrega, como se me afogasse gradualmente num mar de sensações intensas, ondas invadiam-me, ondas que começaram pequenas, mas que aos poucos se tornaram maiores e mais constantes e então estremeci, os quadris que antes se movimentavam timidamente agora se contorciam. Vincent! Era um grito reprimido a míseros sussurros, como queria que ele me ouvisse e que viesse até mim. E então senti que a última onda havia de chegar e derrubar tudo o que estivesse de pé, a onda que me arrebataria e far-me-ia repousar na praia. Meu corpo inteiro vibrava ao ser invadido pelo prazer que tanto desejara ali entre lençóis e vazio, minha mão apertou com força o lençol e abafei um gemido no travesseiro. Senti o sangue ferver, senti o rubor em minha face, e então meu corpo estava satisfeito, exausto, entregue. Fechei os olhos e um sorriso displicente nasceu em meus lábios rosados. Um último pensamento pronunciou-se em minha mente  -Sim, eu serei o vinho e o que mais tiver que ser. Senti o sorriso desfazer-se e os pensamentos adormeceram. 

CONTINUA...

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