ESCRITO POR: MAYRA BORGES
Não foi fácil dormir aquela noite, pois eu queria mais,
mais dele e principalmente mais de mim. Fiquei inquieta e a excitação perdurou
por um tempo, curiosidade, desejo, medo, mas eu sabia que seria necessário
caminhar devagar, seria como desfrutar de um bom vinho. Um bom Sommelier sabe
apreciar e decodificar a maior quantidade possível de sensações que um bom
vinho pode proporcionar. A bebida dos cinco sentidos. Vincent e eu dispúnhamos
de apenas dois dos sentidos o que, contudo não era bastante para impedir a
semelhança entre nossa relação e um bom vinho tinto, aroma penetrante, gosto
aveludado. Eu seria o vinho, deixaria que ele me conhecesse e desfrutasse
lentamente, despertaria nele sensações, por isso queria que fosse naturalmente
devagar. Meu corpo arrepiou-se ao pensar na taça cristalina sendo gentilmente
inclinada, primeiro para notar-se a consistência e a cor, depois para aguçar o
olfato e por último, a taça fina e delicada indo de encontro aos lábios de
Vincent, passando pela língua e garganta, aquecendo suavemente, uma pequena
gota deslizando desleixada pelo queixo e minha língua atrevida sorvendo-a.
E então minhas mãos inquietaram-se,
eu me revirei na cama, fazia calor e meu corpo estava transpirando, de repente
a respiração agitou-se junto aos batimentos cardíacos. Retirei a blusa e a
roupa íntima que usava, mas a tentativa de amenizar o calor só servira para
atenuar o desejo por prazer. Era inevitável, a todo o momento a imagem dele
perpassava minha mente, não consegui resistir e não havia motivos para. Minhas
mãos acariciaram meu rosto, meus cabelos, demorando-se nos seios, macios e alvos,
a mão direita escorregou lentamente pela barriga até encontrar o ponto certo, e
demorou-se em carícias alternadas, lentas, rápidas, suaves e intensas demais. O
rosto dele vinha até minha mente, o vinho quente... Imaginei que eram as mãos
dele a percorrer meu corpo inquieto, desejei aqueles lábios de sorriso faceiro
e ordinário. A mão esquerda agitava-se
junto ao corpo, segurava forte o cabelo, arranhava suavemente os ombros
desnudos. Sussurrei na ilusão de que ele pudesse me ouvir: Vincent. Aquele
homem, que homem!
O quarto estava escuro, meus
olhos estavam fechados e minha mente já não pensava em mais nada além do
momento. Minha boca entreabriu-se a espera de um beijo que por certo era proibido
e que de certo sequer aconteceria, usei os dedos nos lábios devagar provocando pequenos
arrepios. A respiração sôfrega, como se me afogasse gradualmente num mar de
sensações intensas, ondas invadiam-me, ondas que começaram pequenas, mas que
aos poucos se tornaram maiores e mais constantes e então estremeci, os quadris
que antes se movimentavam timidamente agora se contorciam. Vincent! Era um
grito reprimido a míseros sussurros, como queria que ele me ouvisse e que
viesse até mim. E então senti que a última onda havia de chegar e derrubar tudo
o que estivesse de pé, a onda que me arrebataria e far-me-ia repousar na praia.
Meu corpo inteiro vibrava ao ser invadido pelo prazer que tanto desejara ali
entre lençóis e vazio, minha mão apertou com força o lençol e abafei um gemido
no travesseiro. Senti o sangue ferver, senti o rubor em minha face, e então meu
corpo estava satisfeito, exausto, entregue. Fechei os olhos e um sorriso
displicente nasceu em meus lábios rosados. Um último pensamento pronunciou-se
em minha mente -Sim, eu serei o vinho e
o que mais tiver que ser. Senti o sorriso desfazer-se e os pensamentos
adormeceram.
CONTINUA...
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