Mayra Borges
Exatas nove horas e doze minutos, ouvi batidas na porta. Procurei
respirar fundo, mas o gesto foi inútil, pois naquele momento todo o oxigênio do
planeta parecia insuficiente para meus pulmões. Caminhei até a porta em pânico
e em um primeiro momento hesitei em abri-la, tentei respirar fundo novamente e
desta vez quase cheguei perto, mas ou o ar estava rarefeito demais ou eu
simplesmente havia desaprendido a fazer aquilo. Fiquei parada em frente à porta
por alguns segundos até ouvir mais algumas batidas. Levei a mão à chave e abri
de uma vez.
- Oi?
- Você é a Miriam, certo?
Uma mulher com olhos extremamente grandes e cara redonda cheia de sardas
olhava para mim através das lentes manchadas e grossas dos óculos. Era a recepcionista ou algo assim. Sorri um
pouco demais ao perguntar, tentando disfarçar minha cara de decepção e de
alívio ao mesmo tempo:
- Ahh, sim, sou eu sim, algum
problema?
Ela me olhou um pouco e
respondeu:
- Não, é só que tem um rapaz lá
embaixo a sua procura, Vi... Vic...
- Vincent._completei e senti meu
coração acelerar novamente.
- Isso._ela sorriu meio sem
jeito._Posso deixá-lo subir?
Ainda estava me recuperando da sensação de um pré-enfarto e prestes e
ter um novo, tentando segurar o riso e a vontade de sair correndo o que me fez
demorar alguns segundos para responder com um ar meio atrapalhado:
- Claro, você... pode, pode sim.
- Está tudo bem?_perguntou a mulher
me olhando de uma forma curiosa.
Fiz que sim com a cabeça e a recepcionista olhou para mim mais uma vez
antes de dar as costas e descer as escadas no final do corredor, quando tive
certeza de que ela não poderia mais me ouvir comecei a rir e momentos depois,
fui surpreendida por uma pergunta:
- O que é tão
engraçado?
Olhei para frente um tanto surpresa e dei de cara com Vincent que me
fitava com um meio sorriso nos lábios e um ar de curiosidade no rosto. Por
alguns segundos perdi a capacidade de raciocínio, fiquei parada olhando para
ele sem saber o que dizer, até que por fim respondi:
- Não foi nada.
- Depois vou querer
saber o que foi isso.
- Se eu te contar que é
puro nervosismo talvez vá pegar mal, não acha?
- Não, é perfeitamente
razoável, eu causo esse efeito nas pessoas.
- Ahh meu Deus, você é
mesmo um convencido!_revirei os olhos e soprei uma mecha do cabelo pra longe
dos meus olhos.
Ele me observou e respondeu.
- Ahh meu Deus, você é
mesmo linda e despretensiosamente sexy.
Acho que enrubesci, mas não tenho certeza, porque depois de dizer isso
ele sorriu largamente, deu alguns passos na minha direção e me puxou devagar
para um primeiro abraço. Não poderia descrever aquele momento nem se passasse o
resto da minha vida buscando palavras boas o suficiente. Envolveu-me em seus
braços de uma maneira aconchegante, pude sentir seu perfume amadeirado se
misturando à minha pele, uma das mãos afagando ligeiramente o meu cabelo e o
som abafado das nossas risadas. Naquele momento eu pude entender que nem eu
mesma sabia o quanto havia esperado por aquele encontro, por aquele abraço e
pelo que quer que fosse acontecer depois dele... Se me perguntassem não saberia
dizer se naquele momento o mundo parou ou se começou a girar mais rápido.
Continua...