12 dezembro 2013

Capítulo 32

Mayra Borges


Exatas nove horas e doze minutos, ouvi batidas na porta. Procurei respirar fundo, mas o gesto foi inútil, pois naquele momento todo o oxigênio do planeta parecia insuficiente para meus pulmões. Caminhei até a porta em pânico e em um primeiro momento hesitei em abri-la, tentei respirar fundo novamente e desta vez quase cheguei perto, mas ou o ar estava rarefeito demais ou eu simplesmente havia desaprendido a fazer aquilo. Fiquei parada em frente à porta por alguns segundos até ouvir mais algumas batidas. Levei a mão à chave e abri de uma vez.

- Oi?
- Você é a Miriam, certo?

Uma mulher com olhos extremamente grandes e cara redonda cheia de sardas olhava para mim através das lentes manchadas e grossas dos óculos.  Era a recepcionista ou algo assim. Sorri um pouco demais ao perguntar, tentando disfarçar minha cara de decepção e de alívio ao mesmo tempo:

- Ahh, sim, sou eu sim, algum problema?

 Ela me olhou um pouco e respondeu:

- Não, é só que tem um rapaz lá embaixo a sua procura, Vi... Vic...
- Vincent._completei e senti meu coração acelerar novamente.
- Isso._ela sorriu meio sem jeito._Posso deixá-lo subir?

Ainda estava me recuperando da sensação de um pré-enfarto e prestes e ter um novo, tentando segurar o riso e a vontade de sair correndo o que me fez demorar alguns segundos para responder com um ar meio atrapalhado:

- Claro, você... pode, pode sim.
- Está tudo bem?_perguntou a mulher me olhando de uma forma curiosa.

Fiz que sim com a cabeça e a recepcionista olhou para mim mais uma vez antes de dar as costas e descer as escadas no final do corredor, quando tive certeza de que ela não poderia mais me ouvir comecei a rir e momentos depois, fui surpreendida por uma pergunta:

            - O que é tão engraçado?

Olhei para frente um tanto surpresa e dei de cara com Vincent que me fitava com um meio sorriso nos lábios e um ar de curiosidade no rosto. Por alguns segundos perdi a capacidade de raciocínio, fiquei parada olhando para ele sem saber o que dizer, até que por fim respondi:

            - Não foi nada.
            - Depois vou querer saber o que foi isso.
            - Se eu te contar que é puro nervosismo talvez vá pegar mal, não acha?
            - Não, é perfeitamente razoável, eu causo esse efeito nas pessoas.
            - Ahh meu Deus, você é mesmo um convencido!_revirei os olhos e soprei uma mecha do cabelo pra longe dos meus olhos.

Ele me observou e respondeu.

            - Ahh meu Deus, você é mesmo linda e despretensiosamente sexy.


Acho que enrubesci, mas não tenho certeza, porque depois de dizer isso ele sorriu largamente, deu alguns passos na minha direção e me puxou devagar para um primeiro abraço. Não poderia descrever aquele momento nem se passasse o resto da minha vida buscando palavras boas o suficiente. Envolveu-me em seus braços de uma maneira aconchegante, pude sentir seu perfume amadeirado se misturando à minha pele, uma das mãos afagando ligeiramente o meu cabelo e o som abafado das nossas risadas. Naquele momento eu pude entender que nem eu mesma sabia o quanto havia esperado por aquele encontro, por aquele abraço e pelo que quer que fosse acontecer depois dele... Se me perguntassem não saberia dizer se naquele momento o mundo parou ou se começou a girar mais rápido. 


Continua...