21 setembro 2013

Capítulo 28

ESCRITO POR: MAYRA BORGES


- Filho da mãe!_disse em voz alta, mas a indignação logo abriu espaço para uma gargalhada mais sincera do que esperava. Quem eu estava tentando enganar? Tentar enganar-se é o trabalho mais estúpido ao qual alguém pode se dispor, estava sem energia alguma pra mentir pra mim mesma, não ia ignorar aquela pequena alegria que se instalara no meu peito ao ouvir aquela voz, iria tomá-la até a última gota.
            Abri a janela e aspirei um pouco do ar poluído e seco, minha cabeça doía. Caminhei pelo quarto e então olhei para o calendário “Apenas uma semana” pensei, soltei um suspiro, afastei os pensamentos coerentes da cabeça e resolvi que deveria começar a fazer as malas. Seriam apenas três dias. Puxei a mala de baixo da cama e tirei o pó, abri o guarda roupa e coloquei algumas roupas para o dia e outras para a noite, a mala ficou meio vazia, mas estava perfeito, aos poucos acrescentaria o que fosse lembrando, a verdade é que eu não queria dar muita importância a como deveria me comportar e o que vestir, algo em mim dizia que tudo aquilo poderia ser um grande engano, que poderia sair tudo errado. Dei de ombros empurrei a mala para um canto e me joguei na cama, acabei adormecendo novamente.
            Acordei por volta das 16:00 com a luz alaranjada do fim de tarde e o estômago que exigia algo que pudesse digerir. A cabeça continuava latejando, levantei devagar quase tonta, tomei um banho e fui até a cozinha, tinha pão e um resto de suco de caixinha, comi sem muita convicção, voltei para o quarto peguei um livro qualquer na prateleira, uma coletânea de contos do Edigar Allan Poe, li algumas páginas, mas a minha cabeça não estava ajudando. Olhei para o celular, voltei para o livro e novamente para o celular, fiquei nesse impasse por alguns segundos até deixar o livro de lado e segurar o celular. Digitei “Acordei, estou melhor” ponderei sobre enviar ou voltar para o livro, enviar ou voltar para o livro, larguei o celular num canto e realmente tentei me concentrar na leitura, mas alguns minutos depois lá estava eu, enviar! Depois de enviar o sms voltei para o sofá com o livro nas mãos e o telefone no colo. Se estivesse com sorte ele responderia.
CONTINUA... 

08 setembro 2013

Cápitulo 27

ESCRITO POR: MAYRA BORGES

Acordei com a chamada do celular e demorei alguns segundos pra perceber que não era o despertador. Levantei rápido e minha cabeça girou e tudo ficou escuro por alguns segundos, caí sentada na cama até conseguir atender:
         - Alô!_ atendi com a voz de sono.
         - Miriam?
         - Sim, quem é?
Escutei um riso seco do outro lado da linha.
         - Desculpe ter te tirado da cama.
         - Quem é?_ insisti.
         - Vincent, não está mais reconhecendo a minha voz?
         - Ahh você, também, quanto tempo não é mesmo?_ Meu coração se animou no peito, um sorriso idiota se instalou nos meus lábios e lá estava eu mais uma vez, cedendo e ignorando que aquela dor de cabeça era quase culpa dele. “Seja indiferente, seja indiferente” minha mente gritava.
         - Muito trabalho...
         - Faculdade e afins, não precisa se desculpar eu já entendi_ completei a frase, mal humorada e ele simplesmente fingiu que eu não o havia interrompido, continuou como se o assunto sequer tivesse sido mencionado.
         - Tudo bem com você?_ perguntou com aquele sotaque sutil por trás das palavras.
         - Tá, tudo bem, pensei que você nunca mais fosse dar as caras._ sorri numa tentativa de parecer indiferente, mas definitivamente não estava sendo bem sucedida.
         - Mas estou aqui, alguma novidade, está tudo bem mesmo?
         - Está tudo legal sim._”Como se você se importasse” completei a frase mentalmente e dei de ombros.
         - Alguma novidade?
Pensei em contar tudo o que havia acontecido, do término do meu namoro, do encontrão com o moço na rua que havia resultado em passagens impulsivamente compradas, e da dívida do meu cartão de crédito, mas me decidi por omitir.
         - Não nenhuma.
         - Hum, ok. Então, eu só liguei pra avisar que estou vivo e que ficarei online mais tarde, se quiser conversar.
         - Conversar ou tirar a roupa?_ quando dei por mim já havia deixado escapar e com um tom quase agressivo e ressentido, mas isso não fez diferença já que não surtiu nenhum efeito, além de provocar aquele riso curto e quase seco que penetrou a fundo a memória, me fazendo imaginar a curva dos lábios, os dentes brancos e as covinhas na bochecha, estremeci e abri os olhos suprimindo um suspiro e pensando “Você deveria ficar brava e não encantada sua idiota”.
         - Conversar, mas se quiser tirar a roupa não farei nenhuma objeção, será um prazer, não tenha dúvida disso._disse ele, novamente indiferente a qualquer sinal que eu tenha dado de ressentimento, me deixando desarmada e com um sorriso involuntário no canto dos lábios, realmente não seria uma má ideia, e mesmo não tendo dito aquilo como proposta, no fim foi com o que pareceu. “Idiota” “É ele que me provoca” as ideias gritavam dentro da minha cabeça que latejava e girava devagar.
            - Eu já contei que você não presta?_disse, por fim cedendo completamente aquele jogo.
            - Foi você quem falou, eu não disse nada e bem, eu sei que você gosta, confesse!
            - Devo gostar mesmo pra fazer o que fiz.
            - O que você fez? Não me diga que finalmente resolveu escrever um livro sobre mim?
            - Ahh meu Deus, como você adivinhou? Claro, as pessoas realmente precisam conhecer você e toda essa presunção. Desculpe, Vinc, mas, o mundo não gira em torno de você, sinto muito._disse toda verdade com o meu tom mais zombeteiro e ele sorriu novamente, desta vez de uma forma mais solta e aparentemente mais sincera.
            - O que foi que você fez branca?_usou de um tom quase carinhoso. “Droga” pensei.
            - Eu comprei passagens._levei a mão livre e massageei as têmporas, numa tentativa estúpida de aliviar a dor de cabeça.
            - Pra onde?_ fez-se de desentendido, mas eu notei quase um tom de empolgação na voz dele, ou isso ou era a minha imaginação me pregando mais uma peça. 
            - Não consegue mesmo imaginar?
Ele riu e respondeu:
            - Não.
            - Vai mesmo ficar online mais tarde?
            - Vou.
            - Mais tarde a gente conversa. Agora estou morrendo de dor de cabeça e definitivamente não estou no meu juízo normal.
            - Eu gosto quando você perde o juízo, mas vá descansar, quero saber pra onde a moçinha resolveu viajar.
            - Não se faça de bobo.
            - Ué, não estou!_protelou de forma nada convincente.
            - Tá bom, não está.
            - Vou desligar então.
            - Ok. Beijos e até mais tarde.
            - Certo, te espero pra gente conversar, tirar a roupa, fazer o que você quiser, ta legal?
            - Ótimo, Vinc, beijos até mais.
            - Até.