ESCRITO POR: MAYRA BORGES
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Desliguei o computador e fui tomar um banho, os olhos
de Vincent não saiam da minha cabeça assim como as coisas que eu havia deixado
de fazer. Era tudo tão novo, mas será que o fato de ser recente, de eu não
saber muito bem, de estar começando a descobrir tudo era mesmo a melhor das
desculpas ou havia algo a mais por trás do fato de eu não ter tido coragem de
ir mais além?
Saí do banho e me joguei na cama sem me vestir, pois
sempre gostei da sensação da pele contra os lençóis – é algo que me relaxa. E
então me coloquei a pensar no que havia acontecido, ou melhor dizendo: no que
não havia acontecido. Sabia que não deveria me preocupar tanto com a situação,
mas os pensamentos me atropelavam.
Eu estava dividida – quase como se olhar no espelho e
perceber que há algo a mais no seu reflexo.
Um lado meu adoraria ter ido adiante, adoraria ter tirado a roupa,
provocado arrepios e fantasias, esse lado mais solto, mais adulto, mais
instintivo teria adorado excitá-lo à distância, sentir prazer em proporcionar
prazer. Esse é o lado que não conheço, a parte turva do meu reflexo, um lugar
recém descoberto e inexplorado...
Já o lado que conheço tão bem – como meu rosto; cada
caminho e desvio, bem, esse lado meigo e calmo, esse lado receoso, infantil,
mas também responsável pensava em Carlos e no que as minhas atitudes poderiam
significar e refletir sobre o nosso relacionamento. A final de contas – pensei;
é ele quem eu amo de verdade, só precisamos de um pouco mais de tempo e
paciência para enfrentar os desafios e suportar essa distância que nos separa.
E ao final deste pensamento eu percebi o sorriso incrédulo no canto da minha
boca, a quem eu estava tentando enganar? Mentindo pra mim mesma, usando os
caprichos do coração pra encobrir o que a minha cabeça já sabia há muito tempo:
há certas coisas que nem mesmo o amor é capaz de solucionar, mas a final o que
é amar? O que é amar verdadeiramente e no que isso implica? O fato de não ter
resposta para essa pergunta em si já é uma resposta, se eu não sei o que é
então é porque nunca senti.
Suspirei pela milésima vez desde que me deitara ali e
então admiti o óbvio: eu estava na corda bamba de um relacionamento desgastado
e precisava escolher entre permanecer tentando me equilibrar a duras penas ou
me jogar e descobrir de uma vez por todas quem eu era e em quem pretendia me
tornar.
Meus pensamentos voltaram a Vincent e no dom que ele
tinha de mexer com minhas convicções. Antes de ele chegar eu tinha todas as
respostas e agora? Tudo que tinha eram perguntas sem solução. E então eu
percebi o que me ligava a ele de uma forma que eu não sabia explicar, eu
gostava das propostas dele, das provocações que me movimentavam, ele me arrancava
da monotonia de certezas empoeiradas e me fazia correr atrás de novos
significados, ele havia proporcionado um encontro com a parte de mim que
precisava despertar e agora eu sabia que precisava explorar o lado turvo do meu
reflexo. Eu gostava de toda aquela confusão suave e a confusão pode ter um
gosto bastante agradável em certas ocasiões e eu realmente estava me
deliciando.
E antes de adormecer me ocorreu um pensamento, estava
na hora de mudar, não pelo Carlos, por Vincent e nem por mais ninguém além de
mim, estava na hora de descobrir e redescobrir as Mirians que moram aqui
dentro.
CONTINUA...
CONTINUA...