15 junho 2013

Capítulo 17


ESCRITO POR: MAYRA BORGES

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Desliguei o computador e fui tomar um banho, os olhos de Vincent não saiam da minha cabeça assim como as coisas que eu havia deixado de fazer. Era tudo tão novo, mas será que o fato de ser recente, de eu não saber muito bem, de estar começando a descobrir tudo era mesmo a melhor das desculpas ou havia algo a mais por trás do fato de eu não ter tido coragem de ir mais além?
Saí do banho e me joguei na cama sem me vestir, pois sempre gostei da sensação da pele contra os lençóis – é algo que me relaxa. E então me coloquei a pensar no que havia acontecido, ou melhor dizendo: no que não havia acontecido. Sabia que não deveria me preocupar tanto com a situação, mas os pensamentos me atropelavam.
Eu estava dividida – quase como se olhar no espelho e perceber que há algo a mais no seu reflexo.  Um lado meu adoraria ter ido adiante, adoraria ter tirado a roupa, provocado arrepios e fantasias, esse lado mais solto, mais adulto, mais instintivo teria adorado excitá-lo à distância, sentir prazer em proporcionar prazer. Esse é o lado que não conheço, a parte turva do meu reflexo, um lugar recém descoberto e inexplorado...
Já o lado que conheço tão bem – como meu rosto; cada caminho e desvio, bem, esse lado meigo e calmo, esse lado receoso, infantil, mas também responsável pensava em Carlos e no que as minhas atitudes poderiam significar e refletir sobre o nosso relacionamento. A final de contas – pensei; é ele quem eu amo de verdade, só precisamos de um pouco mais de tempo e paciência para enfrentar os desafios e suportar essa distância que nos separa. E ao final deste pensamento eu percebi o sorriso incrédulo no canto da minha boca, a quem eu estava tentando enganar? Mentindo pra mim mesma, usando os caprichos do coração pra encobrir o que a minha cabeça já sabia há muito tempo: há certas coisas que nem mesmo o amor é capaz de solucionar, mas a final o que é amar? O que é amar verdadeiramente e no que isso implica? O fato de não ter resposta para essa pergunta em si já é uma resposta, se eu não sei o que é então é porque nunca senti.
Suspirei pela milésima vez desde que me deitara ali e então admiti o óbvio: eu estava na corda bamba de um relacionamento desgastado e precisava escolher entre permanecer tentando me equilibrar a duras penas ou me jogar e descobrir de uma vez por todas quem eu era e em quem pretendia me tornar.
Meus pensamentos voltaram a Vincent e no dom que ele tinha de mexer com minhas convicções. Antes de ele chegar eu tinha todas as respostas e agora? Tudo que tinha eram perguntas sem solução. E então eu percebi o que me ligava a ele de uma forma que eu não sabia explicar, eu gostava das propostas dele, das provocações que me movimentavam, ele me arrancava da monotonia de certezas empoeiradas e me fazia correr atrás de novos significados, ele havia proporcionado um encontro com a parte de mim que precisava despertar e agora eu sabia que precisava explorar o lado turvo do meu reflexo. Eu gostava de toda aquela confusão suave e a confusão pode ter um gosto bastante agradável em certas ocasiões e eu realmente estava me deliciando.
E antes de adormecer me ocorreu um pensamento, estava na hora de mudar, não pelo Carlos, por Vincent e nem por mais ninguém além de mim, estava na hora de descobrir e redescobrir as Mirians que moram aqui dentro.

CONTINUA...