22 dezembro 2013

Capítulo 33

Por: M. Borges


Devagar me despedi daquele primeiro abraço. Ficamos nos olhando por algum tempo e nossos lábios pareciam eternamente curvados em sorrisos incontidos. Eu olhava para ele e já não conseguia mais entender o que acontecia dentro de mim, não saberia dizer se meu coração estava batendo, se eu estava respirando, se meus pés estavam no chão, se era real ou apenas mais um sonho do qual eu acordaria em seguida sem poder mais voltar, habitava em mim uma felicidade que me jogava para todos os lados numa mistura insana de euforia, medo e outro sentimento que não quis nomear nem acreditar.

            Fixei meus olhos naquele sorriso, naqueles lábios e de repente tive consciência de que minha garganta estava seca, mas não era água que eu queria. As cenas passaram-se em segundos até ele quebrar o curto silêncio entre nós:

            - Acho melhor irmos agora.

Fiz que sim com a cabeça e ele me ofereceu o braço.

            - Para onde você vai me levar?_ perguntei.
            - O que você sugere?
            - Eu vim até aqui, a partir de agora está em suas mãos.

Ele me dirigiu um olhar provocante e respondeu:

            - Você não deveria ter dito isso.
            - Será que não?_ respondi, tentando devolver o mesmo tipo de olhar e expressão.

Ele não respondeu, apenas sorriu. Descemos as escadas, atravessamos a pequena recepção e ao sair na rua senti uma agradável brisa noturna no rosto, olhei para o céu, mas devido à iluminação não havia uma estrela sequer. Ele desvencilhou-se gentilmente do meu braço e fomos até o carro.

            - Nervosa?_ ele perguntou.
            - É, um pouco.

Ele sorriu gentilmente e respondeu:
           
- Acharia estranho se dissesse que não, eu te entendo. Miriam _ ele olhou pra mim com um sorriso infinito _ você é uma garota maluca.
            - Sou? Bem, será que posso considerar isso um elogio?
            - Deve. Fico feliz que tenha vindo, mas isso você já sabe, não é mesmo?
            - Sei sim e quero te dizer novamente que também estou feliz por ter vindo, é que pela primeira vez estou sentindo que de algum modo eu posso decidir por mim e tomar as rédeas da minha própria vida..._ de repente parei de falar, senti que estava tagarelando demais, minhas mãos estavam geladas. Demos mais alguns passos e ele completou:
            - Liberdade.
            - Assumir os riscos...
            - Quer dizer que eu represento um risco pra você?
            - O que você acha?
            - Se eu disser que você não tem com o que se preocupar estaria mentindo.
           
Sorrimos e eu percebi a cada gesto o quanto estava envolvida com aquela situação e com aquele homem, havia certa tensão no ar, no entanto, o momento era de descontração, não falávamos de nada em especial e finalmente senti que minhas mãos estavam voltando a temperatura normal.

Olhei para fora através do vidro escuro da janela do carro.

            - Posso abrir?
            - Claro.

Senti o vento entrando pela janela, brincando com meus cabelos e me senti realmente livre, fui invadida pela sensação de certeza, eu estava onde queria estar, onde deveria estar e com quem realmente queria estar. Deixei de lado lembranças do passado e preocupações com o futuro, tudo o que eu tinha era aquele momento e eu queria fazer valer, queria viver, eu tinha uma chance e não a desperdiçaria. De repente eu estava sorrindo, rindo alto, riso largo sem me preocupar se ele me acharia louca, infantil, desesperada, apenas sorrindo e logo percebi que ele estava pensando como eu, estava se divertindo comigo, sendo a liberdade que eu sentia e rindo comigo, apenas rindo. Ele olhou pra mim, não perguntou porque eu estava sorrindo daquele jeito, apenas disse:

            - Você é maluca.        
            - Você já me disse isso.
            - É que ao repetir isso só estou evidenciando o quanto eu gosto de você.
            - Quer saber?
            - O quê?
            - Você é um cara legal.
            - Sou.
            - Convencido também.
            - Você já me disse isso.
            - É que ao repetir isso só estou evidenciando o quanto eu gosto de você.


E mais uma vez lá estávamos nós, com sorrisos infinitos nos lábios e a vontade transbordando pelos poros. 


CONTINUA...