Por: M. Borges
Devagar me despedi daquele primeiro abraço. Ficamos nos olhando por
algum tempo e nossos lábios pareciam eternamente curvados em sorrisos
incontidos. Eu olhava para ele e já não conseguia mais entender o que acontecia
dentro de mim, não saberia dizer se meu coração estava batendo, se eu estava
respirando, se meus pés estavam no chão, se era real ou apenas mais um sonho do
qual eu acordaria em seguida sem poder mais voltar, habitava em mim uma
felicidade que me jogava para todos os lados numa mistura insana de euforia,
medo e outro sentimento que não quis nomear nem acreditar.
Fixei meus olhos
naquele sorriso, naqueles lábios e de repente tive consciência de que minha
garganta estava seca, mas não era água que eu queria. As cenas passaram-se em
segundos até ele quebrar o curto silêncio entre nós:
- Acho melhor irmos
agora.
Fiz que sim com a cabeça e ele me ofereceu o braço.
- Para onde você vai me
levar?_ perguntei.
- O que você sugere?
- Eu vim até aqui, a
partir de agora está em suas mãos.
Ele me dirigiu um olhar provocante e respondeu:
- Você não deveria ter
dito isso.
- Será que não?_
respondi, tentando devolver o mesmo tipo de olhar e expressão.
Ele não respondeu, apenas sorriu. Descemos as escadas, atravessamos a pequena
recepção e ao sair na rua senti uma agradável brisa noturna no rosto, olhei
para o céu, mas devido à iluminação não havia uma estrela sequer. Ele
desvencilhou-se gentilmente do meu braço e fomos até o carro.
- Nervosa?_ ele
perguntou.
- É, um pouco.
Ele sorriu gentilmente e respondeu:
- Acharia estranho se dissesse que
não, eu te entendo. Miriam _ ele olhou pra mim com um sorriso infinito _ você é
uma garota maluca.
- Sou? Bem, será que
posso considerar isso um elogio?
- Deve. Fico feliz que
tenha vindo, mas isso você já sabe, não é mesmo?
- Sei sim e quero te
dizer novamente que também estou feliz por ter vindo, é que pela primeira vez
estou sentindo que de algum modo eu posso decidir por mim e tomar as rédeas da
minha própria vida..._ de repente parei de falar, senti que estava tagarelando
demais, minhas mãos estavam geladas. Demos mais alguns passos e ele completou:
- Liberdade.
- Assumir os riscos...
- Quer dizer que eu
represento um risco pra você?
- O que você acha?
- Se eu disser que você
não tem com o que se preocupar estaria mentindo.
Sorrimos e eu percebi a cada gesto o quanto estava envolvida com aquela
situação e com aquele homem, havia certa tensão no ar, no entanto, o momento
era de descontração, não falávamos de nada em especial e finalmente senti que
minhas mãos estavam voltando a temperatura normal.
Olhei para fora através do vidro
escuro da janela do carro.
- Posso abrir?
- Claro.
Senti o vento entrando pela janela, brincando com meus cabelos e me
senti realmente livre, fui invadida pela sensação de certeza, eu estava onde
queria estar, onde deveria estar e com quem realmente queria estar. Deixei de
lado lembranças do passado e preocupações com o futuro, tudo o que eu tinha era
aquele momento e eu queria fazer valer, queria viver, eu tinha uma chance e não
a desperdiçaria. De repente eu estava sorrindo, rindo alto, riso largo sem me
preocupar se ele me acharia louca, infantil, desesperada, apenas sorrindo e
logo percebi que ele estava pensando como eu, estava se divertindo comigo,
sendo a liberdade que eu sentia e rindo comigo, apenas rindo. Ele olhou pra
mim, não perguntou porque eu estava sorrindo daquele jeito, apenas disse:
- Você é maluca.
- Você já me disse
isso.
- É que ao repetir isso
só estou evidenciando o quanto eu gosto de você.
- Quer saber?
- O quê?
- Você é um cara legal.
- Sou.
- Convencido também.
- Você já me disse
isso.
- É que ao repetir isso
só estou evidenciando o quanto eu gosto de você.
E mais uma vez lá estávamos nós, com sorrisos infinitos nos lábios e a
vontade transbordando pelos poros.
CONTINUA...