- Estou surpreso com você. _ pronunciou com um tom de voz ameno.
- Também estou surpresa
comigo.
- Estou um pouco
preocupado.
- Com o que,
exatamente? _ eu sinceramente esperava que ele não fosse tocar no assunto tão
cedo, mas achei melhor que fosse assim, esperei calmamente que me dissesse o
que eu já sabia e esperava há algum tempo.
- Não sei se é um bom
momento pra falar sobre esse assunto, só que eu não quero que você se magoe, eu
me preocupo com seus sentimentos e com a nossa amizade, não quero que acabe... _
ele me olhou e eu vi sinceridade refletida em seus olhos, mas era difícil
entender porque exatamente.
- Não se preocupe, eu
entendo o que você quer dizer. Também não quero deixar de ser sua amiga._ percebi
então que nossos pensamentos se cruzavam de algum modo e que apesar de toda a
sinceridade das nossas palavras era impossível saber o que aconteceria, mas era
certo que algo havia de mudar.
- Você é uma garota
incrível, saiba disso.
- Eu sempre soube. _ falei,
numa tentativa de mudar o rumo da conversa. Não queria que ele continuasse me
tratando com aquele tom de quem pede desculpas por um crime que não pode deixar
de cometer.
- Convencida! _ ele
disse com um sorriso no canto da boca, tão característico daquela expressão
irônica que vez por outra eu notava surgir em seu rosto bonito.
- Ótimo você dizer
isso, porque em matéria de convencimento estou aprendendo com o melhor.
- Sendo assim vou
entender isso como um elogio.
Vincent sabia o que estava fazendo e
eu fingia não perceber como tudo aquilo fora previamente planejado para parecer
despretensioso. Um cenário naturalmente poético, conversas amenas, a sensação
de liberdade. Era como uma dança, ele me conduzia suavemente, queria me deixar
confortável e à vontade, queria me mostrar que não era preciso sentir qualquer
tipo de dúvida ou medo, queria mostrar-se leve e desinteressado; enquanto
girava pelo salão me conferindo pequenas vertigens a cada giro.
Ele havia planejado tudo até os
mínimos detalhes para que eu pudesse acreditar estar escolhendo, quando na
verdade era ele quem havia traçado todo o roteiro e feito todas as escolhas. Mas
tal certeza não me provocou nenhum espanto, muito pelo contrário, eu estava
adorando tudo aquilo. No fundo eu sabia que tudo que ele queria era; me ver
entregue e sem escolhas, mas isso não era mau, era interessante, além do mais,
depois de ter ido até ele o que mais eu poderia ser, senão entregue? Não havia
mesmo mais nenhuma escolha a ser feita e ambos sabíamos disso, apenas
dissimulávamos a espera do momento certo para revelar tudo.
O clima estava suave, mas levemente
tenso. Eu via a ansiedade dissimulada nos gestos dele, na forma como
gesticulava e apertava as pontas dos dedos, como repousava os olhos sobre mim e
os retirava quase que de imediato – como quem tem medo de ser pego em flagrante
em meio a um pensamento aparentemente indevido – nos sorrisos contidos, nas conversas
sobre coisas um pouco banais de palavras aleatórias, que tinham o único
propósito de esconder o que realmente carecia ser dito. Mas era inútil, eu
conseguia saber o que ele pensava cada vez que olhava para mim, porque ambos
carregávamos uma urgência que queimava por dentro e esse fogo se revelava no
brilho dos nossos olhos. Eu lia as entrelinhas e gostava do que elas me
mostravam, gostava cada vez mais da expectativa que crescia dentro de nós, de
uma forma que mais cedo ou mais tarde transbordaria e nos deixaria
definitivamente sem controle, faltava pouco, nós sabíamos.
Entramos no carro, e eu percebi que
agora tinha ainda mais pressa, ligou o motor, segurou o volante e senti que aos
poucos íamos mais rápido, nossas falas estavam mais curtas e nossos olhares
mais intensos, nossa respiração desandava e meu coração batia indeciso, minhas
mãos voltaram a ficar frias e eu podia ver a pressão com que ele segurava o
volante. Não quis saber pra onde estávamos indo, já nem conseguia distinguir as
luzes dos postes e as cores dos semáforos, o mundo inteiro fora daquele carro
parecia um borrão colorido e desfocado.
CONTINUA...
sem provas, sem palavras, muita ansiedade...
ResponderExcluirhaha, logo logo eu mato essa curiosidade de vocês.
Excluirbjs, Claudio.
rsss
ExcluirBjs
:)
ExcluirA cada capítulo é o meu coração que bate acelerado de ansiedade... Os rumos afunilando. Torço por eles. :)
ResponderExcluirBeijinho Mayra!
Também torço por eles, mas eu sou meio suspeita pra falar isso >.< haha
ExcluirForte abraço, Alexandre.
Tantas sensações, tantas surpresas... quando se tá perto do fim, a curiosidade triplica, rs.
ResponderExcluirE que seja sem provas mesmo, tudo o que esse casal for fazer, mesmo que seja apenas para matar essa vontade que atiça nos corpos deles.
bjão, escritora! :*
Dá uma ansiedade mesmo, tenho me dedicado mais aos capítulos finais pra saciar essa curiosidade e tentar de algum modo agradar aos leitores que sempre acompanharam essa história com tanto carinho.
ExcluirBeijos, Sam.
Delicia de conto, que chegar como um delicioso suculento suco a escorrer do lábios. Voltando propriamente ao capitulo, me interroga ontem o porque de certas reações, sera um crime declara paixão, amor a alguém, onde tá o insulto. Antes a reação devera ser no minimo de lisonjeio. Soa um tanto hipócrita. Não será, implicitamente, um controle social, um engenhoso mecanismo de inibição a "perigosa" espontaneidade. Enquanto isso a vida vai passando, em meio as guerra urbanas, ao ódio declarado, ao desamor.
ResponderExcluirFico feliz que tenhas gostado, Fábio.
ExcluirObrigada pela visita e pelo comentário.
Bjs
Quanto tempo sem vir aqui e pareço que hoje mesmo estive aqui.
ResponderExcluirnem consigo pensar direito, eu quero saber o que vem a seguir rs
beijos
Obrigada pela visita Lola.
ExcluirBjs