Paramos devagar, ele desvencilhou-se do meu abraço
e dos meus lábios, mas seus olhos derramaram-se sobre mim banhando-me nas águas
escuras e cheias de mistérios do seu olhar. Eu arquejava a procura de ar, porém
quanto mais tentava mais meu coração ameaçava arrebentar-se em meu peito
estreito. O olhar de Vinc penetrava em mim certeiro, ele contemplava meu corpo
e lia minha alma. Paralisei diante dele, mas sem timidez, aquele olhar me
transbordava ainda mais, trazia à minha boca o agridoce de um desejo sem
precedentes, acariciava minha pele e a queimava, puxava-me do fundo, revelando
e tornando nítida a imagem da mulher que eu enxergava somente através do
reflexo embotado das minhas dúvidas. E finalmente, numa sensação indescritível
e única eu vi minha alma refletida naqueles olhos de um tom castanho quase
negro. Reconheci-me então naquele clichê tão bobo e belo: borboleta inteira,
recém saída do casulo, assumindo sua real identidade e pronta para aventura-se
pelo mundo, ansiando ardorosamente a agitação do vento sob suas asas ainda virgens
de liberdade.
**
“Assisti sua metamorfose silenciosa e ofegante
entre meus lábios, entre meus abraços, moldando-se no suor de nós dois. Era
preciso tornar àquela imagem eterna, mas as palavras eram insuficientes diante
daqueles cabelos desgrenhados e negros que quase lhe tocavam a cintura, seus lábios
desejosos entreabertos e úmidos, seu olhar tão expressivo, quente e translúcido.
Seu desejo tão inflamável à flor da pele, sua nudez pura e devassa, a junção
daquelas tantas mulheres únicas que habitavam os recônditos de sua alma e que
ela mesma desconhecia, mas que se sobrepunham em unidade frente à sua imagem e
encantavam meus olhos com deslumbrante beleza, eu não a entendia e nunca
poderia entendê-la tamanha era a densidade de seus sentimentos e a rapidez com
que vinham à tona e voltavam a mergulhar nas profundezas do seu íntimo, mas eu
a sentia, finalmente a sentia, e diante do sentir qualquer saber torna-se insuficiente,
tolice apenas.” – Vincent
**
Prostrava-me gloriosa, nua de corpo
e alma, diante daquele homem, meus sentimentos estendiam-se diante de nós dois
formando pontes que nos juntavam. E tudo isso que agora descrevo com intensa
minúcia, sucedeu-se em poucos, mas infinitos, segundos.
Dei somente um passo e novamente me inclinei
sobre ele que me acolheu com força e doçura, desejo e cuidado. Nos beijamos
novamente, incontáveis vezes, estávamos ávidos, mas não havia pressa. Por fim
cedemos aos apelos da cama que insistia em presenciar e ser parte do nosso
desejo. Vinc estendeu seu corpo sobre o meu.
- Eu sempre sonhei com isso. –
sussurrei.
Vinc
acariciou meu rosto com os nós dos dedos, beijou-me a fronte, os lábios o
queixo, o pescoço os ombros. Suas mãos percorriam meu corpo, mãos fortes,
ásperas, mas suaves, perdiam-se no vão entre as minhas pernas, Vinc
deleitava-se com meu prazer, com o tremular do meu corpo, com os meus sussurros
incompreensíveis e nos meus gemidos tímidos. Sua língua encontrou meus seios, provocou-me
arrepios, delírios. Tive novamente a sensação de que meu peito arrebentaria,
mas agüentei firme enquanto meu corpo afogava-se num prazer inédito e
embriagante.
Por muito tempo atravessei noites
inteiras ardendo em sonhos e desejos inexplicáveis, com sede e ânsia, agora
bebia aquela água preciosa, no entanto quanto mais bebia mais minha sede
aumentava, insaciável e infinita. Ali naquele quarto tudo era infinitamente
maior e melhor do que tudo que eu havia imaginado algum dia.
Sorvia cada segundo quase em desespero, aquele
momento muito provavelmente era tudo que eu teria, era tudo, mas não era
suficiente. Uma noite é ínfima para quem deseja uma vida inteira. Perdida em
meio às inúmeras sensações, eu o detia com força entre meus braços, enlaçava-o
com minhas pernas, movimentava-me em sincronia com seus movimentos, queria que
fosse eterno, permanente, queria tatuá-lo em minha pele ou então tatuar-me nele.
Já havia perdido a conta de quantas vezes havia beijado-o por inteiro e quantas
vezes ele fizera o mesmo. Eu fingir não perceber o deslizar contínuo do tempo.
Vinc brincava comigo, fazendo-me
esperar, numa doce tortura, beijava meus quadris, a parte interna das minhas
coxas, podia sentir a aspereza da sua barba em minha pele, arrepiava-me, sentia
seus dentes roçando de leve meu quadril, seus lábios úmidos e por fim sua
língua deslizando em mim, e quando agitava-me com a espera minhas mãos quase
que por vontade própria insistiam em segurar sua cabeça, sussurrava entre
gemidos.
- Não pare agora.
Mas era
inútil, Vinc tomava minhas mãos e as beijava, fitava-me cinicamente e negava
com um gesto lento de cabeça. Então puxei-o para mim com força, coloquei meu
corpo sobre o seu e meus cabelos encobriram seu rosto, movimentei levemente o
quadril fazendo-o soltar um breve gemido de satisfação. Eu já não aguentava
esperar um só segundo que fosse. Aproximei meus lábios do seu ouvido e disse
com um tom propositalmente autoritário:
- Eu quero agora.
- Como negar isso a você?
Ele permaneceu
me olhando nos olhos e eu pude ver novamente o quanto ele me queria. Senti-o
usar o peso do seu corpo contra o meu, ele rendia-me com uma facilidade
deliciosa... Nossas peles misturavam-se, meus cabelos enrolaram-se em seu
peito, nossas pernas entrelaçaram-se, sentia-me como metal sendo aquecido e
reforjado, meu corpo moldava-se ao dele de forma a não deixar espaços vazios,
dançávamos numa harmonia de gestos que se completavam e prosseguiam,
reinventávamos o tempo e a poesia, havia ali uma nova estação, sextos e sétimos
sentidos, primeiras, terceiras e tantas intenções, dali em diante nada seria
igual, mas recusei-me a pensar no amanhã.
Tudo que tínhamos era o agora. O
passado era silêncio e o amanhã havia de raiar muito além do alcance das nossas
vistas cansadas, amanhã poderia ser vida ou morte, desilusão ou esperança, não
cabia saber, não nos cabia ter pressa.
- Eu quero ser sua. – sussurrei
impaciente.
- Você já é minha.
CONTINUA...
Ahhhhh Deus!
ResponderExcluirComo não amar esse casal e detestar saber que algo além desse fogo sutil ainda vai acontecer?
Gosto disso, de sentir enquanto leio. De ter urgência em terminar a linha só pra saber se vai acontecer ... mal posso esperar pelo próximo capítulo *_*
Mas será que o que está por vir é ruim? Bom, vou continuar deixando você curiosa. haha
ExcluirVou tentar postar o próximo capítulo o mas breve possível, minha situação com a internet ainda
está complicada, mas eu dou um jeito hehe.
Beijão, Dressa. *-*
Dizer o que? Que eu odeio este Vicente? rssss
ResponderExcluirMas por quê? hahaha
ExcluirBjs Claudio.
ciuminho kkkkk
ExcluirBjs, querida.
hahaha, tá perdoado então.
Excluirbjs, Claudio.
Que capítulo. Os últimos têm sido repletos de uma sedução esfuziante. Você se supera a cada linha May. Estou muito admirado com sua escrita, com a maneira madura de intercalar a narrativa, os diálogos, a descritiva tão rica e imaginativa. E um romance onde há erotismo, sexo, precisa muito de descrição. E a sua é feita na medida, com sentimentos pincelados à mão.
ResponderExcluirEste capítulo é para tirar qualquer fôlego. Já não tenho nenhum, confesso... aiai
À flor da pele rs
Adoro esse casal =D
Beijo beijo!
Muito obrigada Alexandre, fico muito feliz ao ler um comentário assim, é sempre uma grande motivação para continuar escrevendo. Obrigada pelo carinho que sempre me dedicas, espero continuar melhorando a minha escrita sempre.
ExcluirEu sei que sou suspeita pra falar, mas o Vincent e a Miriam são apaixonantes.
Beijo Beijo Alê.
Nossa, quase não piscava ao ler esse capitulo, rs.
ResponderExcluirRealmente tirou meu folego, atiçou minha imaginação, e a curiosidade sobre o próximo tá maior ainda.
"Uma noite é ínfima para quem deseja uma vida inteira."
Acho que essa frase se encaixou tão bem pra esse casal.
beeijão, escritora linda ;*
E eu quase não piscava ao escrevê-lo, rs. Foi difícil.
ExcluirSim, concordo contigo, essa frase se encaixa muito bem na história desses dois.
Mas vamos ver o que vai acontecer daqui pra frente.
Beijão, Sam.
Ai caramba!
ResponderExcluirCada capítulo que eu leio você se supera, e a minha curiosidade sobre o final aumenta.
Na torcida pelo casal apaixonante.
Muito obrigada Thais.
ExcluirVamos ver no que vai dar, rsrs.
Bjs
Conto muito coeso, a atmosfera de suspense prende o leitor.
ResponderExcluirObrigada, Fábio.
ExcluirBjs!