Nunca escrevi um final para essa história, pois sempre soube que acabaria exatamente como acabou. As cores, a fantasia, a beleza, tudo habitando somente em mim. Eu revestindo o mundo com o que é meu universo particular. E toda luz, valor e brilho que via nos seus olhos talvez fossem apenas reflexo do que só existiu em mim, por todo esse tempo.
Quebro o espelho dos desejos e encontro a realidade, a dureza, o silêncio, a distância tomada a passos largos e rápidos. Não sei dizer se ainda dói, se ainda preciso encontrar algum sentido, porque em mim pairam todas as respostas, a imaginação não é mais capaz de criar uma realidade onde os erros tenham sido menos perversos. Não há mais espaço que invente acolhida no amor barato, no abraço solto, na falta de vontade, de sinceridade.
Há pouco removi, não sem sangrar, a faca cravada em mim. Deixei que toda dor acumulada se derramasse de uma vez, fui atras, tentei reimaginar as cenas, tentei entender, como sempre fiz e quando enfim parei, já exausta, percebi que jamais poderia encontrar algo que nunca existiu.
Hoje você me diz que tentou evitar que tudo chegasse a tal ponto, mas que eu ultrapassei qualquer limite, que no final a culpa foi minha por gritar de dor, quando tudo que eu poderia fazer era sangrar pelas feridas que você mesmo me causou. Você gostaria que eu fosse dócil, obedinte, quieta, que o meu sangue fosse menos vermelho só pra você não ter que lidar com a responsabilidade por cada um daqueles cortes.
Esperei pelos momentos mais simples, o sol, a cidade, as mãos, as conversas, os olhos e todas as músicas pairando em torno de nós, indicando que eu poderia significar um pouco mais que só uma coisa pra você usar e jogar fora. Durante muito tempo fiquei parada esperando você finalmente olhar pra mim, colocar em prática os detalhes que poderiam tornar tudo diferente, mas novamente, todo carinho, cada um dos momentos inocentes e doces que imaginei, imaginei sozinha. Até finalmente conseguir aceitar que você jamais me amaria dessa forma ou de qualquer outra.
A Lana, diz em uma das músicas dela que ninguém nunca a abraçou sem ferí-la, e eu entendo. Também espero o dia de repousar em braços que não foram feitos para me machucar. Quero um pouco de paz, quero poder recolocar a casa em ordem, dimensionar os sentimentos e encontrar um caminho pro meu jeito de estar no mundo. No fim, talvez o abraço que precise venha de mim mesma, afinal, mais que tudo sou eu quem precisa se perdoar.
Agora finalmente, profundamente, sinto que posso apreciar o silêncio tranquilo de finalmente entender que não existem palavras que sirvam pra concertar algo que já nasceu irremediavelmente quebrado. Finalmente consigo elaborar um final, real em cada detalhe e sinto que posso conviver com isso sem voltar atrás. Depois de todos esses anos finalmente me despeço e entrego as minhas últimas palavras, pois é preciso acreditar que aquilo que é, é! Nunca fomos nada mais além de um erro.
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